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quinta-feira, 30 de novembro de 2023

Produção de beiju em Feira é fonte de renda para famílias e ultrapassa gerações

 

A Prefeitura mantém casas de farinha em localidades rurais

Texto Renata Leite - SECOM 

Puro, com manteiga, molhado no leite ou recheado. De massa ou goma, o beiju está sempre presente na mesa. É difícil não gostar dessa iguaria encontrada nas feiras livres, em supermercados, mercadinhos de bairro e delicatessens. Em Feira de Santana, na zona rural e até mesmo na sede do município, produzir beiju é a fonte de renda de muita gente, uma tradição passada de gerações.

No Candeal II, povoado do distrito da Matinha, a movimentação na casa de farinha de Martiniano Fonseca, 67 anos, começa antes de o sol raiar e acontece praticamente todos os dias da semana - a folga é só na sexta-feira, já que no final de semana produz goma fresca, beiju de palha e peneira as massas de aipim e puba para vender fresquinhos na feira da Cidade Nova.

Seu Paçoca, como Martiniano é conhecido, explica que, para fabricar o beiju, são necessárias algumas etapas: colher a mandioca, descascá-la, ralar, retirar a goma da massa lavando com água para, em seguida, espremer em uma espécie de tela. Depois deixa "descansar" por mais 5h numa bacia para novamente, com auxílio de um pano limpo, separar a goma. Daí é peneirar e levar ao forno.

"É um processo demorado, as etapas não são feitas no mesmo dia. Por isso, levantamos bem cedinho, às 4h da madrugada", diz Paçoca. Essa atividade envolve mais integrantes da família, como esposa, filhos, noras e conhecidos. Cada um tem uma atribuição.

Em frente ao forno à lenha, Liliane Almeida, 35 anos, usa uma colher para pegar as porções da goma e dar o formato arredondado para os beijus que são assados em minutos. Ao seu lado, Josival Fonseca, o Bidogo, um dos filhos de Martiniano, também está envolvido nesta função.

Já a matriarca da família, dona Maria São Pedro Fonseca, de 64 anos, peneira a farinha que sai torrada em outro forno, enquanto no quintal, sob a sombra de uma mangueira, um grupo de mulheres segue lavando a massa e espremendo a goma que será colocada para decantar.


"Há 31 anos faço beiju. Comecei vendendo aos pouquinhos na feirinha da Cidade Nova. De cinco pacotes, passamos a vender 10. E aí foi aumentando. Graças a Deus, a gente foi crescendo e hoje expandimos o comércio e conseguimos dar emprego também a algumas pessoas", relata seu Paçoca.

Além de vender aos sábados e domingos na feirinha da Cidade Nova, o beiju produzido em sua propriedade é repassado para mercadinhos na Mantiba, Santa Quitéria e no Jacu. "A gente vende tudo. Não dá pra enriquecer, mas a gente consegue pagar as contas", comenta.

TEM CASA DE FARINHA NA CIDADE

Na Santa Mônica II, proximidades da movimentada avenida Noide Cerqueira, em meio a condomínios residenciais, escolas e estabelecimentos comerciais, a casa de farinha de dona Eunice Pires, 68 anos, mantém viva uma tradição que ultrapassa gerações.

Os ensinamentos que ela adquiriu foram passados pela avó quando ainda criança. "Eu acompanhava toda a produção. Foi aí que aprendi e comecei a dar meus primeiros passos".

Dona Eunice contabiliza 47 anos nessa profissão. "Meu prazer é acordar pela manhã, me arrumar e vir trabalhar. No dia que não estou aqui, me faz uma falta enorme [ela trabalha de segunda à sexta-feira]", conta na companhia da sobrinha e conhecidas, que ajudam na produção.

A produção feita por dona Eunice tem destino certo: abastece mercados, grandes delicatessens da cidade, e a clientela que se desloca até a casa de farinha para comprar diretamente da "fonte" - muitos consumidores chegam até o local atraídos pela propaganda do boca a boca.

A quantidade de beiju produzido não é contabilizada. Mas são caixas e caixas com pacotes que saem para entrega por semana. O carro chefe é o beiju de massa. E se acompanhado de uma xícara de café é impossível comer um só.

FREGUESIA FIEL

Há oito anos, Leide Silva, 40 anos, vende beiju na praça Bernardino Bahia, local onde atua há quase duas décadas. Moradora do distrito de Tiquaruçu, ela comercializa goma, beijus recheados, massa de aipim, tapioca e biscoitos produzidos de modo artesanal. Diz que parte dessa mercadoria vem de Maria Quitéria (São José) – a outra de Coité, na região sisaleira.

“Antes comercializava frutas e verduras. Passei a vender beiju há 8 anos e hoje tenho uma boa clientela. E para atender a freguesia busco sempre trazer novidades, como beijus recheados”, comenta.

Na banca de Leide, o freguês tem opções facilitadas de como pagar – cartão, pix e em espécie. “Tive que me adequar à realidade. O que não podemos é perder a venda”.

Morador da comunidade Fazenda Água Grande, em Maria Quitéria, Maicon Conceição, 26 anos, herdou da mãe a profissão de vendedor de beiju. Diz que desde menino o acompanhava nas feiras livres. O que ele traz para vender no comércio de Feira é produzido geralmente às terças-feiras na casa de farinha, na localidade rural.

CASAS DE FARINHA COMUNITÁRIAS

A Prefeitura de Feira de Santana também disponibiliza casas de farinha comunitárias em alguns povoados e distritos, como no Ovo da Ema, em Maria Quitéria (São José), Olhos D’Água das Moças e Candeia Grossa, na Matinha, e comunidade Ladeira, em Tiquaruçu. Outros equipamentos estão instalados em Humildes nos seguintes povoados: Escoval, Campestre, Rosário, Jenipapo e na Ferrobilha.

"Está previsto pelo Governo Municipal executar melhorias nas casas de farinha comunitárias para atender às necessidades de cada uma delas, cujo processo licitatório deve ocorrer no primeiro semestre do próximo ano. É determinação do prefeito Colbert Filho dar atenção especial ao trabalhador do campo", afirma o titular da Secretaria Municipal de Agricultura, Alexandre Monteiro.

Ainda, a Prefeitura, por meio da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social (Sedeso), adquire os derivados da mandioca [farinha e beiju] através do PAA (Programa de Aquisição de Alimentos), cujo recurso é do Ministério do Desenvolvimento Social e repassado diretamente aos agricultores familiares e doados simultaneamente para as entidades socioassistenciais para atender pessoas em situação de vulnerabilidade.

"Esse alimento é destinado para equipamentos da assistência social, como CRAS, CREAS e casas de passagem", explica Georgeton Rios, coordenador dos programas Segurança Alimentar e Nutricional da Sedeso.


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