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Das três vacinas para o coronavírus que são testadas em Salvador atualmente, a da Universidade de Oxford já foi aplicada em mais de 700 baianos. Até essa terça-feira (11/08), dos 1,5 mil voluntários da Bahia, 719 pessoas receberam as doses do potencial imunizante para a covid-19 ou do placebo, que é a vacina da meningite.
Esses voluntários foram selecionados desde a abertura das inscrições para os soteropolitanos, no dia 11 de julho. Quem foi vacinado não sabe qual dose tomou. Essa diferença faz parte do ensaio clínico que verifica se o imunizante tem mesmo capacidade de proteger as pessoas do vírus Sars-CoV-2.
Os pesquisadores do Instituto D’Or, que coordena os estudos em Salvador, vão acompanhar os voluntários durante um ano, pelo menos, no Hospital São Rafael, que pertence ao grupo. O estudo mundial é fruto de uma parceira da Universidade de Oxford, do Reino Unido, com a empresa biofarmacêutica AstraZeneca.
No total, 50 mil pessoas participam dos testes em todo o mundo, sendo 10% delas (5 mil voluntários) no Brasil, divididos entre as cidades de Rio de Janeiro (1,5 mil testados) e São Paulo (2 mil testados), além da capital baiana. Inicialmente, a Universidade de Oxford havia anunciado que testaria a vacina em 130 países, sendo três mil voluntários no Brasil: mil em Salvador, mil em São Paulo e mil no Rio de Janeiro.
Segundo o dentista Igor Menezes, 36 anos, que tomou na segunda-feira (10) a vacina de Oxford, as pessoas que tomarem a vacina do placebo terão prioridade para receber a imunização da covid-19, quando e se ela for aprovada. Ele disse que essa informação foi explicada pelos membros do estudo e está presente no termo de comprometimento que ele assinou. As inscrições para selecionar os voluntários baianos já foram encerradas.
“Foi um processo tranquilo. Eles me avaliaram, testaram se eu tive contato com o vírus, assinei termos de comprometimento e não sei se a vacina que tomei foi a do coronavírus ou o placebo, que é a vacina da meningite”, disse.
Igor explicou que não sentiu nenhum efeito colateral e que lhe foi receitado paracetamol de seis em seis horas, durante 24 horas. “Eles também me deram um cartão com o telefone para entrar em contato se eu sentir qualquer sintoma forte e um outro que permite eu ser atendido pelo hospital São Rafael”, explicou.
Segunda dose
Na segunda-feira (10), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou que os voluntários brasileiros que já receberam a primeira dose da vacina de Oxford possam tomar uma segunda, respeitando intervalo entre 4 e 6 semanas. Segundo o órgão, a expectativa é que, com a aplicação da segunda dose, novas informações sejam acrescentadas nos estudos sobre o imunizante.
Segundo a assessoria de comunicação do Instituto D’Or, os resultados de segurança obtidos fizeram com que Oxford modificasse o estudo, que passou a incluir qualquer voluntário em idade adulta, acima de 18 anos. Antes, a faixa de idade desejada era de 18 até 55 anos. Por isso, para o Brasil, a Anvisa também autorizou a inclusão de voluntários de até 69 anos para os testes.
Sobre essa segunda dose, o Instituto D’Or informou que se trata de um reforço imunizante e que os voluntários que já receberam a primeira dose serão convidados a receber a segunda, mas podem recusar. Se isso acontecer, eles continuam mantidos no estudo da mesma forma. Já os voluntários que forem incluídos no estudo a partir dessa quarta-feira (12) receberão as duas doses.
O dentista Igor Menezes foi um dos voluntários que aceitaram tomar as duas doses. Ele já saiu do Hospital São Rafael com data e hora marcada para tomar o reforço: oito de setembro, às 14h. Para o profissional da saúde, essa pode ser uma oportunidade de ficar livre do coronavírus. “Quero muito ser imunizado”, disse.
Como funciona
A vacina de Oxford foi desenvolvida através de um processo conhecido no meio científico. Os cientistas pegaram um vírus inofensivo e o modificaram geneticamente, acrescentando a proteína de superfície (spike) do novo coronavírus para gerar uma resposta imune, estimular a produção de anticorpos e de outras células de defesa capazes de proteger o indivíduo contra a covid-19.
Esses pesquisadores já anunciaram que, de acordo com os resultados obtidos nas duas primeiras fases dos testes de imunização, a terceira acontece agora em vários países além do Brasil e que a vacina é segura e apresenta uma resposta imune em quem a testou. Ainda não há resultados da terceira fase.
Além dessa, Salvador tem outras duas vacinas sendo testadas no Centro de Pesquisa Clínica das Obras Sociais Irmã Dulce (Osid). O local possui uma parceria com a empresa norte-americana Pfizer, que desenvolveu os dois imunizantes em parceria com a empresa alemã BioNTech.
Esse estudo também é composto por três fases que acontecerão simultaneamente, para obter uma resposta mais rápida na obtenção do imunizante. O Brasil só participa da terceira fase do estudo. Pesquisas não clínicas in vitro e em animais já foram realizadas e os resultados obtidos até o momento demonstram um perfil de segurança aceitável das duas candidatas a vacina principal da Pfizer contra o coronavírus.
No total, serão cerca de 29 mil voluntários em todo o mundo, mil destes no Brasil, divididos entre São Paulo e Salvador, 500 em cada local. A testagem para o público externo das Osid deve acontecer gradualmente, mas a prioridade serão os profissionais da saúde da própria organização, que estão na linha de frente contra a covid-19. Ainda não há data para a abertura de inscrições para os voluntários.
Os nomes científicos das duas vacinas testada nas Osid são BNT162b1 e BNT162b2. Elas são feitas com um pedaço do material genético do vírus, no caso, o RNA mensageiro (mRNA), que codifica um fragmento específico do novo coronavírus (Sars-CoV-2). O RNA é traduzido pelo organismo humano em proteínas que induziriam uma resposta imunológica.
Informações e fotos do CORREIO 24 HORAS, com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro
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