JOSÉ BATISTA: UM VERDADEIRO PAGADOR DE PROMESSAS

 

A coluna Feira em História, assinada pelo jornalista Zadir Marques Porto, traz fatos históricos e curiosos sobre a cidade

Desportista, natureza descontraída, desnudo de pretensões políticas, tornou-se conhecido pelas empreitadas pouco comuns em defesa do seu líder político. Promessas pagas com longas caminhadas marcam sua biografia, assim como dois livros lançados. Ainda jovem, deixou a vida física tendo em mente o que pretendia realizar e não pôde — uma caminhada internacional: o Caminho de Santiago.

Que os caminhos da vida são imprevisíveis — mesmo que já venham programados, como muitos acreditam — é indiscutível. Natural de Oliveira dos Campinhos, no vizinho município de Santo Amaro da Purificação, mas criado em Feira de Santana, para onde sua família se transferiu, José Batista de Freitas Matos desde cedo mostrou um dinamismo invulgar e, no futebol, apareceu com destaque em clubes amadores como o Botafogo, deixando a impressão de que seu caminho já estava definido.

Torcedor do E.C. Vitória, foi aprovado em testes no rubro-negro da capital. Era um lateral marcador que sabia sair com a bola, municiar o ataque e retornar, com velocidade e fôlego. Todavia, ainda menor de idade, preferiu trabalhar na área de assinaturas e distribuição dos jornais Folha do Norte e A Tarde e, talvez por conta do ambiente, motivou-se e mudou os passos. Em 1958, ainda muito jovem, surpreendentemente lançou o livro Um Sertanejo no Governo, traçando com precisão a vida política do Dr. João Durval Carneiro, que, após ser prefeito de Feira de Santana em duas oportunidades — 1967/1971 e 1993/1994 —, não concluiu sua segunda gestão municipal, que iria até 1996, para se candidatar ao governo da Bahia e obter a eleição.

Embora sem demonstrar interesse em debates políticos ou siglas partidárias, Batista obteve forte aproximação com Antônio Carlos Magalhães, líder político baiano, que seria consolidada nos anos seguintes com demonstrações de respeito e amizade do político pelo jovem escritor, autor do livro ACM – O Mito, e mais evidenciadas em 1989, quando Antônio Carlos Magalhães era Ministro das Comunicações e foi submetido a uma cirurgia cardíaca em São Paulo. Cumprindo promessa pela recuperação do ministro, José Batista percorreu a pé os 120 quilômetros entre a Igreja Senhor dos Passos, em Feira de Santana, e a Igreja do Senhor do Bonfim, na capital do estado.

Em 2001, a amizade e a admiração de José Batista pelo político baiano foram reforçadas de maneira insofismável. O envolvimento de ACM no episódio denominado “Painel do Senado” ameaçava seriamente a vida política do senador, com forte pressão da oposição. Mais uma vez, Batista, sem titubear, empreendeu uma longa caminhada de Salvador a Brasília. Já “batizado” como “o pagador de promessas”, em 2003 José Batista percorreu os 300 quilômetros que separam o Museu do Ipiranga, na capital de São Paulo, da Igreja de Nossa Senhora Aparecida. ACM enfrentava sérias dificuldades no “caso dos grampos telefônicos”.

O retorno do E.C. Vitória à primeira divisão do futebol brasileiro motivou José Batista a realizar nova caminhada entre Feira de Santana e Salvador, promessa cumprida com a ascensão do decano do futebol baiano. Sem jamais reivindicar uma candidatura a cargo político, embora várias sugestões surgissem nesse sentido, José Batista esteve sempre ao lado de amigos muito bem posicionados nesse segmento, mas para ajudá-los, apoiando-os ao seu modo, ou como podia: cumprindo promessas com longas caminhadas das quais não se queixava. Dizia apenas: “O que eu gasto mesmo são os tênis”, os calçados que ele usava nas caminhadas.

Tinha ainda uma meta a executar: percorrer os 1.800 km do Caminho de Santiago, entre Santiago, na Espanha, e Lourdes, na França, e isso estava programado em sua vida. Fiel aos amigos e ao Esporte Clube Vitória — o que era reconhecido pela diretoria do clube —, José Batista de Freitas Matos faleceu em novembro de 2023, na cidade de Camaçari, onde estava hospitalizado, e foi sepultado no Jardim Celestial, em Feira de Santana. Assim como soube formar e perpetuar amizades, foi um fiel pagador de promessas, nunca deixando de cumpri-las!

Por Zadir Marques Porto

Fotos: Carlos Augusto e Arquivo ZMP