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segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Sessão da Beleza Negra debate a luta pela igualdade racial

Sessão na Câmar
 “Ou você está vivo e orgulhoso ou está morto”. Com a emblemática citação de Stephen Bantu Biko, ativista anti-apartheid da África do Sul entre os anos de 1960 e 1970, o professor, historiador e atualmente vereador de Salvador Silvio Humberto Passos conclamou a população afrodescendente a não parar de lutar pela igualdade, porque “o racismo não tira férias”. Ele foi um dos palestrantes da noite desta quinta-feira (28/09), na sessão solene comemorativa ao Dia da Beleza Negra, na Câmara Municipal.

Muito mais do que reverenciar a beleza e homenagear personalidades de destaque no movimento negro em Feira de Santana, a sessão solene foi uma verdadeira aula de história, do Brasil e da África. Silvio Passos falou sobre a importância da potencialidade das pessoas para o desenvolvimento, mas afirmou que “o racismo impede que as pessoas sejam plenas”. Ele lamentou que em um país rico, belo de grande diversidade étnico-racial não se reconheça o outro. “O negro ainda é julgado de forma preconceituosa”, observou.
 
O palestrante destacou a forma pejorativa usada para definir o perfil do negro, como nariz de taboca, beiço (e não lábio) e cabelo duro. “Duro é o preconceito!”, enfatizou, citando ainda a expressão “a coisa tá preta”, para definir uma situação ruim. O negro é julgar pelo cabelo, pela boca, pelo nariz. Cabelo duro? Duro é o preconceito. Lábio é beiço, nariz de taboca. A coisa tá preta (tá ruim). Por conta dessas características, segundo ele, na hora de buscar emprego o negro vai ocupando sempre os andares baixos.
 
Genocídio, abolição, desigualdade intolerância foram citações recorrentes durante a noite, em que se discutiu ainda a as frequentes acusações de que o negro se vitimiza. “O negro não teve acesso a políticas públicas, foi marginalizado quando a escravidão foi abolida de forma camuflada e embora o último censo do IBGE aponte que 46% da população brasileira é afrodescendente, inda precisamos de um estatuto”, disse a assistente social Luize Arapiraca Amorim, também palestrante da sessão.
 
Luize Arapiraca alertou para o real sentido do evento realizado pela Câmara Municipal. “Quando falamos de beleza negra nos referimos à estética, mas vai muito além disso, é um momento de reflexão do contexto histórico em que nosso país foi construído. O Brasil está atrás apenas da Nigéria em população afrodescendente”, informou, ao criticar o Estado pela omissão e negligência na questão da igualdade racial. Foi por meio de muita luta que conseguimos leis para nos amparar e tentar reparar os danos causados ao longo da história”, ressaltou.
 
Para Lourdes Santana, presidente do Núcleo Cultural e Educacional Odungê e do Conselho Municipal das Comunidades Negra e Indígena, a sessão representou, ainda, um momento de reparação. Ela falou das leis criadas pela Casa da Cidadania, mas alertou: “Não adianta criar leis sem dialogar com o movimento negro, ser fantasioso”. A noite foi também de agradecimentos, não somente aos vereadores e deputados estaduais presentes, mas a todos que contribuíram para as conquistas do movimento ao longo da história, em especial a população do Campo Limpo, bairro onde vive.
Servidor público municipal há 23 anos, o bacharel em administração, Antonio Françisco Gumarães Reis destacou a importancia da homenagem. “Essa homegaem é o reconhecimento do negro e da cultura negre na sociedade. É com grande orgulho que recebo a tão importante homenagem”, ressaltou o servidor. 
 
O vereador Cadmiel Pereira (PSC) ressaltou a importancia da horaria. “Esta homenagem é mais ganho para toda a comunidade negra. Este evento não trata só da beleza, mas sim da valorização do negro enquanto cidadão. É o empoderamento do negro na sociedade e em todos os lugares porque nós temos a consciência da nossa importância na construção do Brasil” obsevou o edil,  
A saudação aos convidados ficou a cargo do vereador Fabiano Nascimento de Souza (Fabiano da Van), que destacou a importância da Câmara Municipal não somente discutir assuntos de interesse público, mas “reconhecer, respeitar e valorizar ações de instituições e pessoas que prestam serviços à sociedade”. Ele criticou o que chamou de “noções engessadas” de beleza e da falta de referências na infância para a formação da identidade e da representatividade do negro.
 
Presentes no plenário, dentre outras autoridades, Pablo Roberto Gonçalves da Silva, vereador licenciado e secretário municipal de Prevenção á Violência; Paloma Pina Rebouças Ayres, defensora pública; Albertone Amorim, representante do Conselho da Igualdade Racial em Feira de Santana; Uiara Lopes, assessora técnica da Secretaria Estadual de Políticas Públicas para mulheres e ex-vereador Marialvo Barreto.
 
A sessão foi conduzida pelo presidente do Legislativo, vereador José Carneiro Rocha, que compôs a mesa ao lado dos palestrantes e da presidente do Odungê, mais o sociólogo Ildes Ferreira, secretário municipal de Desenvolvimento Social, representando o prefeito José Ronaldo na solenidade, e deputados estaduais Ângelo Almeida e Ubirajara da Silva Ramos Coroa (Bira Coroa). Durante a solenidade foram homenageadas 42 pessoas indicadas pelo Odungê.

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