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quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

Feira de Santana é a cidade que mais ganha peso no PIB da Bahia nos últimos 16 anos

 

Feira de Santana

 Com uma população de 614 mil habitantes - a segunda maior da Bahia, depois de Salvador - Feira de Santana é o município baiano que mais cresceu em contribuição para o PIB (Produto Interno Bruto) do estado nos últimos 16 anos. Desde 2004, a cidade tem o terceiro maior PIB da Bahia, atrás somente de Salvador e Camaçari (confira todos os valores no final da matéria). 

Os dados são de 2018 e pertencem à pesquisa PIB dos Municípios, divulgada, nesta quarta-feira (16), pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em parceria com a Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI). 
 
Em 2002, de R$ 100 gerados no território baiano, R$ 3,7 eram de Feira. Já em 2018, a participação do município cresceu para R$ 5,1, ou seja 5,1% do que é produzido na Bahia tem origem feirense. Segundo o IBGE, a cidade tem forte presença de serviços privados, os quais representaram 65,1% do valor gerado em 2018. A contribuição deste segmento pelo município subiu de 4,8% para 6,4% da receita do estado. O aumento da participação de Feira também foi forte no setor industrial, onde a produção cresceu de 2,9% para 4,5% em relação à Bahia, entre 2002 e 2018.
De acordo com o secretário de planejamento de Feira de Santana, Carlos Brito, esse destaque se deu, em primeiro lugar, pelo compromisso com os gastos públicos. “Temos um governo que tem responsabilidade com o recurso público e uma política de incentivos bem sólida, atraindo um polo de serviços, de universidades, mostrando que Feira é o lugar para se investir. Temos responsabilidade fiscal e um nível de adimplência muito alto e isso tem levado a cidade a ter um comércio forte e pujante”, observa o secretário. 
 
Brito também ressalta as obras de construção civil que modificaram a cidade. Segundo ele, foram gerados mais de 800 empregos diretos, a partir de um investimento de R$ 130 milhões na construção de viadutos, túneis e pistas exclusivas para o BRT (sigla em inglês para Ônibus de Trânsito Rápido). Fora os viadutos, que foram construídos em 2005, o secretário não informou o período em que esses investimentos ocorreram nem a quantidade. Brito estima que existe uma população flutuante de 1 milhão de habitantes, que dinamizam o comércio na cidade, principalmente o de rua - há quem diga que a Feiraguai é a 25 de março dos baianos. 
 
Localização estratégica
Mas, um dos principais fatores para o sucesso do PIB em Feira de Santana se deve a sua localização, como apontou a técnica da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), Simone Pereira. “É um dos maiores entroncamentos rodoviários do país, cortado por rodovias estaduais e federais. Então tem uma localização estratégica, porque liga o Nordeste ao Centro-Sul do Brasil e favorece um grande fluxo de população, tem muita passagem de mercadoria e funciona como um pólo de distribuição, fazendo com que seja atrativo para as empresas”, destaca Simone. Dentre as federais, estão a BRs 324,   116 e   101. Já as estaduais são a BAs 052,   502,   503 e  504. 
A técnica aponta que a atividade de serviços é, de fato, a que mais tem peso na composição da economia da cidade e corresponde a 80%. Em segundo lugar, está a indústria, com 19,6%, seguido da agropecuária, que representa 0,4% da geração de emprego e renda. 
 
Comércio competitivo
Além da facilidade do escoamento de produtos, outro fator que contribui para o PIB em Feira de Santana é a forte presença do comércio. “O comércio de Feira de Santana é muito competitivo. Além da facilidade do escoamento da produção, Feira tem um comércio atraente, que, para quem quer instalar um negócio, é uma grande vitrine para a empresa. Você tem a proximidade com o porto, com o aeroporto, com a Região Metropolitana de Salvador e com grandes centros de consumo, que são ingredientes muito fortes”, argumenta Cloves Cedraz, presidente da Federação das Associações Comerciais da Bahia. 
 
Quando foi presidente da Associação Comercial de Feira de Santana, entre 12 e 15 anos atrás, Cedraz relembra um dos incentivos que pleiteou com a prefeitura, de reduzir a porcentagem do tributo ISS (Imposto Sobre Serviço) de 5% para 2%. O acordo fechou em 3%, para que universidades e laboratórios, hospitais e clínicas pudessem se instalar no município com menos custos. A contrapartida era o oferecimento de bolsas de estudo para servidores públicos municipais. “Com o passar do tempo, isso atraiu muitas empresas. Porque além de você diminuir o imposto, você ofereceu uma demanda para o mercado”, avalia o presidente. 
 
Dentre as faculdades que foram atraídas para a cidade, estão a Unifacs, a Pitágoras e a Uniasselvi. Há também a instalação da Le Biscuit, que hoje é uma das 100 maiores empresas varejistas do Brasil, assim como a rede de combustível Menor Preço. As duas têm a base estabelecida em Feira de Santana. Na indústria, os destaques vão para a fábrica da Nestlé, a Pirelli, que fabrica pneus, a Belgo Bekaert, maior produtora mundial de arames, Vipal, fabricante de borrachas, e a PepsiCo, produtora de salgadinhos. 
Para o economista Danilo Peres, da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB), o forte do comércio em Feira de Santana é o setor de alimentos. “O principal é a parte de alimentos que se instalaram, como a PepsiCo, a Nestlé, a Brasfrut, que utilizam aquele local para distribuir produtos para o Nordeste todo. A Nestlé, que é a principal, quando foi instalada, pensou em um local pequeno e duplicou sua produção. Tem outros setores também, como a Pirelli, que também dobrou sua produção. Então isso fez com que Feira crescesse muito”, analisa Peres.
 
O economista sinalizou que o PIB não é o único fator que deve ser analisado para medir o desenvolvimento econômico de uma cidade. “Muitas vezes o PIB não reflete o desenvolvimento econômico da cidade. É preciso levar em consideração outras características, como a presença de hospitais, centros de pesquisa, universidades e serviços mais sofisticados na área da saúde. Esse conjunto de atividades dão uma dinâmica e forma a pujância de uma cidade, quando você tem na cidade serviços que não precisa ir para outros lugares. E, mais do que isso, ela acaba sendo um pólo atrativo”, pontua. Peres afirma que Feira também tem essa característica, o que favorece ainda mais seu desenvolvimento econômico, que ainda tem grande potencial. 
O PIB é calculado a partir da soma de todos os bens e serviços finais produzidos. O levantamento do IBGE analisa os valores brutos de três setores da atividade econômica - agropecuária, indústria e serviços - assim como impostos, líquidos de subsídios, o PIB e o PIB per capita, de todos os 5.570 municípios do Brasil. 
 
Concentração de riqueza
O  PIB de Salvador foi estimado, em 2018,  em R$ 63,5 bilhões, avançando nominalmente (considerando a inflação) em relação aos R$ 62,8 bilhões em 2017 (+1,1%). Considerando-se todas as 5.570 cidades do país, a capital baiana encerrou  em 10º lugar no ranking dos maiores PIBs municipais. 
 
Na Região Nordeste, Fortaleza, com um  PIB de R$ 67 bilhões, lidera o ranking. 
De acordo com a pesquisa, Salvador, Camaçari e Feira  concentraram 50,8% do valor produzido na Bahia, em 2018. Só a produção da capital baiana sozinha foi igual à soma do PIB dos 362 municípios baianos com menor PIB em 2018, que representam 86,1% dos 417 municípios do estado. Juntos, os 362 municípios geraram riqueza de R$ 62,9 bilhões e Salvador gerou R$ 63,5 bilhões.
 
Principais mudanças do ranking
Apesar da concentração, as principais mudanças no ranking do 10 municípios com maior e menor PIB na Bahia foi a cidade de Luís Eduardo Magalhães (R$ 6,2 bilhões em 2018) ter ultrapassado Simões Filho (R$5,8 bilhões) e passou a ser a 7ª maior Economia baiana. Já Barreiras passou do 10º para o 9º lugar (R$ 4,7 bilhões) e Candeias (R$ 4,4 bilhões) entrou no grupo, subindo de 11º para 10º. Por outro lado, Itabuna (R$ 4,1 bilhões) deixou o top 10 e caiu de 9º para 13º lugar, entre 2017 e 2018. 
No outro extremo, os três municípios da Bahia com os menores PIBs, em 2018, foram Ibiquera (R$ 27,7 milhões), Dom Macedo Costa (R$ 32,1 milhões) e Contendas do Sincorá (R$ 36,9 milhões) - que não fazia parte desse trio em 2017, mas caiu duas posições de um ano para outro, superado por Cravolândia e Lafaiete Coutinho. 
 
Bahia tem os dois maiores PIBs agropecuários do Brasil 
O destaque da pesquisa vai para dois municípios que ficam no Oeste da Bahia, São Desidério e Formosa do Rio Preto, que tiveram o primeiro e o segundo maior PIB agropecuário do Brasil. São Desidério teve uma produção de R$ 2,5 bilhões e cresceu 65,2% em relação a 2017 (R$ 1,5 bilhão). O setor corresponde a 70,5% da economia da cidade. Já Formosa do Rio Preto produziu o equivalente a R$ 1,8 bilhão e cresceu 71,6% em relação a 2017 (R$ 1,1 bilhão). O principal produto da região é a soja, segundo a SEI, mas o IBGE também ressaltou a produção de algodão. 
 
A boa situação das lavouras de commodities fez com que São Desidério e Formosa do Rio Preto estivessem ainda entre os municípios que mais ampliaram sua participação no PIB baiano entre 2017 e 2018, com o maior ganho e o terceiro maior, respectivamente. São Desidério avançou de uma participação de 0,88% para 1,27% do PIB do estado, enquanto Formosa do Rio Preto aumentou de 0,65% para 0,94%.
 
Além desses dois municípios, Barreiras também passou a figurar entre os 10 maiores valores gerados pela agropecuária brasileira, na 9ª colocação em 2018 (frente à 24ª em 2017), com um valor de R$ 1,1 bilhão. Estes três municípios baianos são os únicos fora da região Centro-Oeste no “top-10” do PIB agropecuário.
 
São Francisco do Conde cai de 7º para 10º maior PIB per capita do Brasil
A cidade de São Francisco do Conde, na Região Metropolitana de Salvador (RMS), caiu no ranking nacional de PIB per capita, que é o valor do PIB dividido pela população. Ela saiu da 7ª para 10ª posição, mas se mantém o maior PIB per capita da Bahia, com R$ R$ 225.290,31. Esse valor corresponde a 7 vezes o valor do país e 12 vezes o valor do estado. Camaçari, que também fica na RMS, perdeu o posto de segundo maior PIB per capita para São Desidério (R$ 109.841,86), e também foi ultrapassada por Formosa do Rio Preto (R$ 106.481,34), município que ocupa agora o terceiro lugar. 
 
Administração pública é mais da metade do PIB de 26,1% dos municípios  da Bahia
A administração pública foi a maior parte do PIB de quase 3 em cada 10 cidades baianas, em 2018. Segundo o IBGE, as atividades ligadas à administração, defesa, educação e saúde públicas e seguridade social representavam mais da metade do valor gerado em 109 dos 417 municípios da Bahia, isto é, 26,1% do total. 
 
Além disso, se fosse somado às cidades em que, mesmo quando não era mais da metade do PIB, a administração pública ainda tinha o maior valor adicionado, chegava-se a 306 dos 417
 
municípios baianos. Ou seja, a administração pública era a principal geradora de
riqueza para pouco mais de 7 em cada 10 cidades do estado (73,4%). O Instituto avalia que uma maior dependência da administração pública reflete menor dinamismo da economia municipal.
 
10 maiores PIBs da Bahia / participação no PIB da Bahia
Salvador: R$ 63,5 milhões / 22,19%
Camaçari: R$23, 8 milhões / 8,32%
Feira de Santana: R$ 14,7 milhões / 5,13%
São Francisco do Conde: R$ 8,8 milhões / 3,1%
Vitória da Conquista: 7 milhões / 2,46%
Lauro de Freitas: R$ 6,5 milhões / 2,25%
Luís Eduardo Magalhães: R$ 6,2 milhões / 2,16%
Simões Filho: R$ 5,8 milhões / 2,03%
Barreiras: R$ 4,7 milhões / 1,66%
Candeias: R$ 4,3 milhões / 1,52%
10 menores PIBs da Bahia/ participação no PIB da Bahia
Macururé: R$ 43.463 mil / 0,02%
Ichu - R$ 43.130 mil / 0,02%
Aiquara - R$ 41.111 mil / 0,01%
Pedrão - R$ 40.542 mil / 0,01%
Gavião - R$ 38.835 mil / 0,01%
Lafaiete Coutinho - R$ 37.916 mil / 0,01%
Cravolândia - R$ 37.416 mil / 0,01%
Contendas do Sincorá - R$ 36.873 mil / 0,01%
Dom Macedo Costa - R$32.123 mil/ 0,01%
Ibiquera - R$27.699 mil / 0,01%
 
Informações do CORREIO 24 HORAS sob orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro

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