José Ronaldo |
Prefeito de Feira de Santana por quatro vezes, José Ronaldo (DEM) reiterou, em entrevista à Tribuna, o desejo de integrar novamente a chapa da oposição ao Governo da Bahia em 2022. O democrata feirense ressaltou, porém, que o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), é o "candidato naturalíssimo" ao Palácio de Ondina daqui a dois anos. Neste cenário, sobraria a ele a vaga ao Senado ou a vice-governador do Estado.
Ainda na entrevista, José Ronaldo, que foi candidato a governador da Bahia em 2018, falou sobre a decisão de dar suporte a Jair Bolsonaro (sem partido) na disputa pela Presidência naquele ano, mesmo quando o DEM apoiava Geraldo Alckmin (PSDB). A atitude do ex-prefeito feirense foi vista como uma traição a ACM Neto, que era presidente nacional do DEM e articulou apoio ao tucano paulista.
O democrata feirense também analisou os dois anos de mandato de Bolsonaro. Para ele, o "ponto negativo" do chefe do Palácio do Planalto é que "exagera no radicalismo". "Se o Governo Federal não tivesse abraçado essa questão de liberar os recursos na área de Saúde para os governos estaduais e as prefeituras, evidentemente o país estaria numa situação gravíssima. Os estados estariam sem condições de até pagar os salários dos servidores, e os municípios também", elogiou.
Sobre a disputa presidencial de 2022, José Ronaldo mostrou resistência à candidatura de João Doria (PSDB). Para ele, é difícil o governador paulista emplacar como postulante forte na região Nordeste. "Eu tenho dúvida de Dória em nível de futuro como presidente da República", declarou.
Tribuna - O senhor emplacou a sexta vitória consecutiva em Feira de Santana na eleição deste ano. O que representa isto para o senhor?
José Ronaldo - Em primeiro lugar, eu agradeço ao povo de Feira por mais uma vez votar em uma pessoa que faz parte do grupo político, reelegendo Colbert Martins prefeito de Feira de Santana. Acho que Colbert tem muita preparação e, com certeza, fará um grande governo, como vem fazendo nesses dois anos. Nossas palavras são de agradecimento a Feira de Santana, e o compromisso permanente de trabalhar incansavelmente por esta terra.
Tribuna - Quais são os principais desafios de Colbert Martins na Prefeitura de Feira de Santana?
José Ronaldo - O que é de responsabilidade do município tem que continuar investindo, como mobilidade urbana. Acho que ele está investindo, e está fazendo um projeto grandioso que é o "Projeto Centro". A obra está sendo tocada a todo vapor e será concluída 100%. Nesses dois anos dele, ele fez duas obras importantes que foram: o prolongamento da avenida Ayrton Senna e da avenida Fraga Maia. Essas obras de mobilidade têm grande importância para a região. Também está realizando uma obra grandiosa que é duplicação da avenida Rubem Francisco Dias, popularmente conhecida como avenida do Papagaio. Há outra obra de grande importância de mobilidade também, que é a duplicação de dois viadutos: Francisco Pinto e Wilson Falcão. Está duplicando esses viadutos e permitirá fazer a ligação, sem engarrafamento, da avenida Getúlio Vargas com a Nóide Cerqueira, e da avenida Maria Quitéria com a avenida Fraga Maia. São obras que também estão em execução e serão concluídas dentro do prazo contratual. Ele (Colbert Martins) também anunciou na campanha, que implantou em Feira de Santana o hospital de campanha (contra Covid-19), que está funcionando plenamente nessa segunda onda, e será permanente após acabar com o problema do coronavírus em nosso país. Ele anunciou que manteria esse hospital aberto sob a responsabilidade do poder público municipal. Então, são coisas muito importante para a cidade de Feira, com certeza absoluta. Ele é uma pessoa que antes de prometer uma coisa pensa muito, analisa muito, e com certeza, ele vai levar adiante todos esses compromissos.
Tribuna - Como viu a declaração do ex-candidato à prefeitura de Feira de Santana, o deputado federal Zé Neto, do PT, de que questionaria judicialmente o resultado da eleição?
José Ronaldo - Pela primeira vez na história política de Feira de Santana, acontece uma declaração dessa. Eu acho que essas pessoas davam a vitória como certa no segundo turno, porque passaram na frente no primeiro turno. Eu nunca vi ninguém dizer que ganhou a eleição porque passou na frente em primeiro turno. No segundo, era previsível que se chegasse a uma vitória. Por que eu digo isso? Nós tivemos oito ou nove candidatos. Primeiro, Colbert saiu três pontos atrás (no 1º turno). Percentual perfeitamente superado. Bastava ter um 1,5% superava, porque, se empatasse, Colbert ganhava por ter mais anos (de idade). Modificar 1,5% não é uma coisa difícil. É perfeitamente realizável. E nós tivemos apoio do candidato José de Arimateia, que tem um eleitorado muito forte entre os evangélicos. Foi um apoio muito importante. Também tivemos retorno ao nosso grupo político do deputado Carlos Geilson, que foi o quarto candidato. Um apoio também muito importante. E historicamente o eleitorado da Professora Dayane (Pimentel) nunca votou no PT, e a deputada sempre foi uma ferrenha adversária do PT. O que a gente precisava? De uma mensagem que chegasse a todas essas pessoas. Além disso, o que foi que aconteceu? Pessoas históricas que sempre fizeram política do nosso lado político estavam um pouco acomodadas no primeiro turno, porque sempre vinha ganhando eleições. Muitas delas não foram nem votar no primeiro turno. Houve uma abstenção maior do que no segundo turno. Essas pessoas despertaram, foram para as ruas. Na história política de Feira, que veio desde os anos de 50 até hoje, nunca o adversário ficou chorando, se lamentando. As pessoas aprenderam a respeitar e desejar boa sorte. Infelizmente, nesta eleição, não ocorreu isso. O PT não teve a grandeza de reconhecer a derrotar, e ligar para o vencer e parabenizar pela vitória. Isso não houve. Isso é um gesto que não é civilizado. Se fosse o inverso, Colbert teria ligado. Não tenho a menor dúvida. Mas esse choro é de alguém que se achava eleito, se achava sentado na cadeira de prefeito de Feira de Santana, e foi surpreendido por uma derrota fragorosa no segundo turno. Com certeza absoluta, (a nossa campanha) foi feita tudo na maior transparência, lisura e maior honestidade. O tempo vai mostrar tudo isso que estou dizendo. Colbert não trouxe ônibus e ônibus de Santo Estevão, de Antonio Cardoso, Serrinha, de Santa Bárbara, de Salvador, de vários municípios, com meninas para colocar na sinaleira da cidade. Feira é uma cidade madura. Não adianta fazer esse tipo de coisa.
Tribuna - O senhor acha que saiu fortalecido para estar na chapa da oposição ao Governo da Bahia em 2022?
José Ronaldo - Vamos por etapa. Se você me pergunta se pretendo fazer parte desta chapa, se eu responder que não pretendo, eu estaria me mentindo. Eu vivi e entrei na vida pública para me expressar sempre com a verdade. Jamais menti. Eu desejo participar sim (da chapa), com certeza. Acho que nós temos hoje um nome que está bem sólido, um nome que tem grandes possibilidades de vitória para governador que é o prefeito ACM Neto. Acho que Neto provou por A mais B que é um grande gestor. Fez uma administração magnífica como prefeito de Salvador, e povo de Salvador aprovou. Se reelegeu, muito bem, e fez o sucessor. Acredito na força do trabalho de Bruno (Reis). Acho que é uma pessoa muito dinâmica. Não tem preguiça. É trabalhador. Acredito que Bruno vai prosseguir com muito sucesso a frente da prefeitura de Salvador, e Neto é um candidato muito bom, com excelentes qualidades técnicas, políticas e administrativas para disputar o cargo de governo. Aí fica vice-governador e uma chapa de senador. Eu acho que tudo isso depende das conversas, que vão surgir a partir de janeiro, fevereiro. Essas conversas vão ficar acontecendo. Não acredito que vai se decidir de forma prematura, açodada, apressada. Vai ter o tempo de 2021 para amadurecer, para se trabalhar, para se buscar apoio. Eu posso colocar o meu nome à disposição. Estou fora da prefeitura hoje. Claro que tudo isso passa por entendimento político, partidário, amplas conversas. O que for melhor para o grupo político deverá ser feito para 2022, respeitando a tudo e a todos sem querer ferir ninguém, agredir ninguém, para que a gente possa fazer uma coisa com ampla vitória. Estou ouvindo muito. Tenho ligado muito para o interior, conversado com muita gente. E estou ouvindo muita gente dizer que está na hora de fazer essa mudança na política do estado. Vamos ver o que vai dar. Mas nosso nome a gente coloca a disposição, sem imposição, sem agressão a ninguém, e respeitando a decisão do grupo político ao qual a vida inteira a gente pertenceu.
Tribuna - O prefeito ACM Neto, então, é o candidato natural do grupo a governador da Bahia?
José Ronaldo - Eu acho que Neto é o candidato naturalíssimo ao Governo do Estado. Eu acho que é. É o candidato amplamente natural. Como já disse, Neto tem preparo, é uma pessoa realmente muito madura tanto no campo político, administrativo. Eu entendo Neto 100% preparado para ser candidato a governador. Eu não digo nem 99%. Eu digo 100% preparado para ser candidato a governador tanto campo político quanto no administrativo. Ele é realmente muito preparado. Vejo com muita naturalidade essa candidatura a governador. Sinto ter grande chance de vitória.
Tribuna - O senhor deixaria o Democratas para integrar a chapa do grupo do governador Rui Costa?
José Ronaldo - Intregar uma chapa oposicionista, não. Isso não passa na minha cabeça, não. Agora, 2021 é um ano de muitas conversas. Vai ser um ano de grandes preparações, de muitas viagens, muitos encontros, debates, muitas discussões entre partidos políticos. Isso vai acontecer muito em 2021. Não posso afirmar nem posso dizer que isso não poderá vai ocorrer (deixar o DEM). É uma coisa que está em aberto isso para que se discuta, para se debata e faça o melhor para o grupo político (liderado pelo prefeito ACM Neto). Isso vai ser discutido dentro do grupo político, e o que for melhor para o grupo político, isso vai ser feito.
Tribuna - Como avalia a gestão do presidente Jair Bolsonaro? Em 2018, o senhor chegou a declarar apoio a ele. O senhor manteria esse apoio se fosse hoje?
José Ronaldo - São dois momentos. Em 2018, eu era candidato a governador, e ele era candidato a presidente da República. O partido (o DEM) apoiava um candidato que não deslanchou. É a realidade, uma realidade que ninguém pode esconder. Faltavam alguns dias para a eleição. Eu chegava no interior, viaja todos os dias, e as pessoas apoiavam Bolsonaro. Eram pessoas que faziam campanha com muita força, coragem, determinação. Eu chegava nas cidades e essas pessoas diziam: "rapaz, anuncia apoio a Bolsonaro, que vai facilitar o nosso voto em você". Então, toda cidade que chegava, eu escutava isso. Então, isso foi me conquistando aos poucos. Nunca conversei com Bolsonaro, nunca conversamos nada no período eleitoral. Claro que conversei no período pré-eleitoral, mas no período eleitoral, não. Anuncie apoio a Bolsonaro atendendo a essas pessoas pelo interior da Bahia.
Tribuna - E o que o senhor pensa do governo Bolsonaro?
José Ronaldo - Acho que ele tem muitos pontos positivos, e tem pontos negativos. Eu acho os pontos negativos, ele tinha condições de resolver sem nenhuma dificuldade. Acho que os pontos negativos que surgiram até agora, na minha visão, foram por ele falar demais, se exceder no falar. Ele enfrentou um governo, no segundo ano, uma coisa dificilíssima, que é o coronavírus. Abalou o muito inteiro, e não seria diferente no Brasil. Mas acho que o governo dele foi a salvação das prefeituras, dos municípios, e dos governos estaduais. Se o Governo Federal não tivesse abraçado essa questão de liberar os recursos na área de Saúde para os governos estaduais e as prefeituras, evidentemente o país estaria numa situação gravíssima. Os estados estariam sem condições de até pagar os salários dos servidores, e os municípios também. O Governo Federal socorreu muito bem os municípios e os estados nesse período de pandemia de coronavírus. E fez o pagamento do auxílio emergencial, que o que eu ouço das pessoas - não só em Feira, mas em outros municípios - é de que a economia brasileira teve uma ajuda extraordinária. Comerciantes me disseram que venderam no mês de maio, junho e julho o mesmo que o mês de dezembro. Acho que isso é um ponto positivo do governo. O ponto negativo é que ele, às vezes, exagera no radicalismo. Ele controlando isso aí, ele é uma pessoa que tem chances de se reeleger. Basta controlar isso aí. Controlando isso aí, ele é um candidato que tem chance de disputar a eleição muito bem.
Tribuna - Qual a melhor estratégia para o DEM em 2022 na disputa presidencial? Fala-se em apoiar Ciro Gomes, João Doria, Bolsonaro ou lançar candidatura própria de Luciano Huck…
José Ronaldo - Eu não sei. Eu não vou falar pelo DEM. Vou falar pelo que escuto. Acho que Ciro Gomes é um homem muito inteligente, de muita coragem, acho que tem uma história política bonita. Mas tem horas que exagera nas palavras. É um candidato que tem uma história, tem o que falar ao povo brasileiro, muito inteligente. É um candidato declarado. Quanto ao governador Doria, eu tenho dúvidas se será candidato mesmo ou não. Eu acho que mais fácil um nordestino entrar fazendo política no Sul e Sudeste do que um cidadão do Sul fazer a política no Norte e no Nordeste. Um presidente que está já está na Presidência da República, ele já tem mais facilidade de penetrar em todas as regiões ou não. Isso depende das suas atitudes, aceitações pelo povo. Ele será julgado como presidente, mas quem não está no exercício do mandato tem dificuldades de penetrar de uma região para outra. Não sei se é muito fácil o governador Doria penetrar, sair de São Paulo penetrar no Rio, no Norte. Eu tenho minhas dúvidas se um paulista vai conseguir. Eu fiz a campanha de José Serra, de Alckmin, e sentia uma dificuldade muito grande por eles serem paulistas. E eu acho que são pessoas muito preparadas. Era muito dificuldade pedir voto para um e para outro aqui na região. Olha que tanto Alckmin quanto Serra já tinham, na minha visão, um mundo político mais amplo do que o próprio Doria. Eu tenho dúvida de Dória em nível de futuro como presidente da República.
Por: Guilherme Reis - Editor de Política; Rodrigo Daniel Silva - Repórter e Paulo Roberto Sampaio - Diretor de Redação
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