O relacionamento conturbado durou cinco anos e ela sequer sabia que estava sendo violentada
Engajada em causas sociais voltadas para mulheres, a orientadora social Cristiana Brito transmite felicidade e muita energia a quem convive. Mas, as pessoas nem imaginam que por trás de um brilhante sorriso, há uma mulher que passou por momentos difíceis em um relacionamento abusivo.
Na época, o ofício de dançarina garantia a Cris, como é mais conhecida, a renda para o próprio sustento e do seu filho. O relacionamento conturbado durou cinco anos e ela sequer sabia que estava sendo violentada.
“Para mim não existia essa questão de violência psicológica. Esse comportamento era algo normal. Eu não entendia um grito, um murro na parede ou uma ameaça como tal. Não interpretava o quebrar de um celular como uma violência patrimonial. Hoje eu tenho esse olhar”, relata.
Durante os últimos três meses do relacionamento, as agressões pioraram e Cris viveu momentos aterrorizantes em cárcere privado, onde era agredida e ameaçada de morte frequentemente. A fuga para fazer a denúncia veio com a ajuda de uma comadre que se passou por empregada. Em troca da sua liberdade foi obrigada a tatuar o nome do agressor.
Desde 2015, ano em que fez a denúncia, ela tem o apoio da rede de proteção à mulher a qual a Secretaria Municipal de Políticas para as Mulheres (SMPM) faz parte. Desde então possui medida protetiva que delimita a distância mínima entre ela e o agressor para a sua proteção. Além disso, durante esse período criou forças para focar em si mesma.
“Quando entrei em uma grande crise, fui ao Centro de Referência Maria Quitéria [CRMQ] para ficar um tempo sendo atendida lá. Me ocupei com várias demandas, como TCC, entrevistas, convites para faculdades e clínicas, e isso acabou sendo a minha terapia. Não que hoje eu não precise de assistência, mas isso me ajudou", explica Cris.
A chefe da Divisão de Promoção dos Direitos da Mulher da SMPM, Josailma Ferreira, destaca que o fato das mulheres nem sempre perceberem que estão sendo vítimas de violência psicológica é pela interpretação errônea de cuidado.
“O isolamento social, o homem falar que não precisa de mais ninguém além dela ou que a família dela agora é só ele, começa a minar a mente da mulher nessas relações abusivas. Ocorre uma romantização de dizer que está protegendo e que ama demais, mas essas e outras situações se enquadram como violência psicológica”, alertou Josailma.
Ainda de acordo com ela, a mulher por vezes só percebe que está enquadrada nesse contexto quando chega a algum ato extremo.
Hoje, Cristiana inspira outras mulheres a denunciarem a violência doméstica. A Prefeitura de Feira de Santana orienta a denúncia em casos de violência contra a mulher pelos números 190, 180 ou 156. Caso prefira registrar a denúncia presencialmente, basta comparecer a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM) ou à sede da Secretaria Municipal de Políticas para Mulheres.
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