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quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

Capitão Arlindo Barbosa: muito mais que um herói, um exemplo e um grande amigo

 

Tornou-se ídolo da juventude da época como professor de Educação Física do Instituto de Educação Gastão Guimarães

Arlindo Barbosa da Silva não era um gigante fisicamente, pelo contrário, mas se agigantou nos campos de batalha da Europa, na II Guerra Mundial, e em Feira de Santana, na condução de jovens estudantes que aprenderam o verdadeiro valor do respeito e da paz!

Heróis! É fácil vê-los na televisão e no cinema, em aventuras que somente a trucagem e a tecnologia cada vez mais avançada e inimaginável podem explicar. Mas heróis de carne e osso, com sentimentos humanos, que incluem coragem e medo também, são muito difíceis de encontrar. Mais difícil ainda é quando ele, como líder, congrega e transita no caminho do bem, mostrando que guerra é um apanhado de loucura e incoerência.

Nós já tivemos um herói. Sim, Feira de Santana já teve uma figura assim. Um homem que, vindo dos campos de batalha da Europa, marcados pelo sangue de milhares de homens, soube ensinar à juventude o valor da disciplina, da família, da amizade e da PAZ! Nascido em Bom Conselho, Pernambuco, em 1920, Arlindo Barbosa da Silva servia ao 20º BC em Maceió, Alagoas, quando teve início a catastrófica II Guerra Mundial. Em julho de 1944, como sargento, ele se apresentou de forma voluntária para defender a democracia contra o nazi-fascismo que a todos tentava dominar.

Chegou de navio em setembro na cidade italiana de Nápoles e logo embarcou para Livorno, onde começou a lutar. O ‘batismo de fogo’, lembrava ele, foi em Torre Nerone. Depois, uma sucessão de batalhas, cada vez mais violentas e mortais: Rivela Zooca, Castelvetro, Fornovo, Montese, Collecchio e Monte Castelo. Em 1945, depois de 11 meses de combate no Velho Continente, o sargento Arlindo Barbosa retornou ao Brasil, surpreendentemente sem traumas, tendo como marca física das cruentas batalhas apenas um corte na mão esquerda, fruto de estilhaços de uma granada que caiu próximo ao seu corpo.

Integrado à Força Expedicionária Brasileira (FEB), ele teve oportunidade de viver momentos de intensa emoção que requeriam de cada soldado extrema concentração e frieza. Em Torre Nerone, no ‘batismo de fogo’, ele viu a cabeça de um companheiro ser arrancada por uma granada e “voar como uma bola”, o que deixou outros sem saber o que fazer. “O sargento Freitas não conseguiu se recuperar do trauma. Eu fiquei dentro de um buraco durante três dias, vendo aquela cena terrível. Como o frio era intenso, o corpo não apodreceu”, relatava.


A vitória das Forças Aliadas contra o nazi-fascismo se concretizou em 12 de dezembro de 1944. Todavia, na véspera, as tropas aliadas dormiram próximo à linha de fogo sem conseguir o esperado avanço. “O sargento José Carlos estava feliz, recebera a primeira carta da mãe. Mas não conseguimos avançar e as baixas foram enormes. Foram 12 horas sob a barragem da artilharia inimiga. O sargento José Di Giácomo não suportou e passou o comando para mim. Foram muitos corpos insepultos. Alta noite, o sargento José Carlos ‘apareceu’ e reclamou que não tínhamos resgatado seu corpo. Preferi nada dizer, mas logo cedo o sargento Di Giácomo veio me contar a mesma coisa. Então formamos uma patrulha e conseguimos resgatar o corpo, que foi sepultado em Pistóia. Depois, os restos mortais foram transladados para o Monumento dos Ex-Pracinhas no Rio de Janeiro.”

Independentemente do seu destemor provado nos campos de guerra, Arlindo Barbosa, que chegou a esta cidade em 1954, tornou-se ídolo da juventude da época como professor de Educação Física do Instituto de Educação Gastão Guimarães (IEGG) e outros estabelecimentos. Também foi responsável pelo setor de recrutamento do 17º Tiro de Guerra (TG 17), que antecedeu ao 35º Batalhão de Infantaria, e idealizador e edificador da Casa do Ex-Combatente do Brasil em Feira de Santana, inaugurada em 1973.

Como educador, foi um líder admirado. Com sua firmeza, voz de comando e retidão de caráter, preparou uma geração de jovens decentes e sabedores da importância da democracia e da paz, que ele e tantos outros brasileiros tiveram que resgatar nos gelados campos de guerra da Europa, durante a sangrenta II Guerra Mundial. Já com patente de Capitão e missão amplamente cumprida, o pernambucano Arlindo Barbosa da Silva, um verdadeiro herói, faleceu em 1997, aos 77 anos de idade, em Salvador.

Por Zadir Marques Porto

Foto: Arquivo Fundação Senhor dos Passos

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