
Um feirense retrata a história de sua terra em uma escultura de aço, para mantê-la na integralidade dos tempos. ‘Todos os Caminhos’, obra de Juracy Dórea, na Praça João Pedreira, há quatro décadas atrai olhares e pensamentos.
Trabalhada em placas e tubos de aço e instalada em ponto estratégico do centro da Cidade Princesa, na Praça João Pedreira, bem próximo ao Paço Municipal Maria Quitéria, a escultura ‘Todos os Caminhos’, que se pode entender como uma forma simbólica de representar o maior entroncamento rodoviário do Norte/Nordeste, é também um preito ao seu autor, Juracy Dórea Falcão, um dos mais importantes artistas plásticos da história de Feira de Santana, com uma rara pluralidade nas ações artístico-culturais.
‘Todos os Caminhos’, uma peça muito bem articulada de seis metros de altura, exigiu do autor, pela sua sinuosidade de formas, um apurado desenho modelar para, em seguida, ser trabalhada em uma metalúrgica, até chegar à fase de montagem, revestimento e pintura final, com tinta automotiva, o que lhe garante maior conservação e um visual que chama atenção.
A escultura, conforme o artista, foi elaborada em 1981 e instalada em 1983, no segundo governo do prefeito José Falcão da Silva, tendo em sua proximidade um espelho d’água, que foi substituído pela passagem em elevação. Antes, havia ali o Abrigo Santana. Na época, Juracy desenvolvia dois importantes trabalhos: o Projeto Terra e o Projeto Chocalho de Cabra, instalando várias esculturas de madeira e couro, materiais simbólicos do sertão, nos municípios de Jeremoabo, Paulo Afonso, Canudos e Monte Santo. Algumas, em número bem menor, como a existente em Feira de Santana, foram feitas de aço.
Ao mesmo tempo, ele participa de uma exposição coletiva na Pinacoteca de São Paulo e de uma individual na Galeria Martins e Monteiro, também na capital paulista, onde mostra sua versatilidade, expondo trabalhos em madeira, couro, carvão sobre tela, esterco de gado, instalações e outras técnicas. Feirense de nascimento, arquiteto formado em 1968 pela UFBa, Juracy Dórea está presente em sua cidade de diversas formas e locais.
Além de ‘Todos os Caminhos’, ele tem outras esculturas, uma delas em frente ao Edifício Sawaia, obras nos museus da cidade e um bonito painel na técnica tinta sobre placa de madeira, na Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), que fica na Praça Padre Renato Galvão, ou Praça da Catedral, como o logradouro é chamado. Também são seus dois exuberantes painéis de azulejo no Mercado de Arte Popular (MAP), sempre elogiados pelos visitantes. Ele também está presente no Museu de Arte Moderna da Bahia, em Salvador. Trabalhando com materiais e formas diversas, Juracy Dórea chega a ser surpreendente pelo seu potencial.
O artista de Feira de Santana já participou de mais de três dezenas de exposições no país, a exemplo da Bienal Internacional de São Paulo em 1978, e de outras no exterior, como a Bienal de Veneza, na Itália, em 1988, a Bienal de Havana, em Cuba, em 1989, e em 1998 a Arts Plastiques D’Aujourd’hui, na França. Fotógrafo por conta do registro documental de obras e mostras, também pelo prazer da fotografia artística, Juracy Dórea é escritor e poeta, de reconhecida qualidade, e no seu trajeto literário estão livros publicados, como o que focaliza o poeta feirense Eurico Alves Boaventura.
Nascido em 1944, Juracy Dórea começou muito cedo no mundo das artes. Sua primeira exposição foi em 1962, no evento de inauguração da Biblioteca Municipal Arnold Silva, e continua ativo na sua pluralidade criativa. Teve importante participação no Grupo Hera, surgido na década de 1970, que reuniu jovens, como ele, dedicados à produção poética. Artista urbano, ele não extingue as suas raízes de homem do sertão, transmitindo com fidelidade o espírito que impulsionou sua terra ao ponto de metrópole.
Por Zadir Marques Porto
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