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quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

Prédio comercial é relicário da história da Cidade Princesa

 

Em estilo colonial, o prédio foi construído em 1878 e vendido à Câmara Municipal em 1888

É como andar sem óculos e dele precisar para enxergar melhor. Ele está no centro da cidade, em local estratégico, funciona como um prédio comercial comum, com várias lojas, mas poucos dos que circulam por aquela área a todo instante sabem que muito da história da cidade princesa já passou por aquelas belas paredes dobradas!

No centro da cidade, confluência da Praça João Pedreira e da Avenida Senhor dos Passos, exatamente em frente a esse respeitável templo da Igreja Católica construído em linhas góticas, está um belo prédio de paredes dobradas, pintura de forte colorido, que sedia várias lojas comerciais na sua parte térrea – calçados, confecções, farmácia, sucos, variedades – e, no piso superior, serviços do segmento médico, contábil e representações. Conta ainda com um sótão voltado para o lado da praça. Para o transeunte, um mero edifício como tantos outros existentes na cidade. Uma ideia lógica, até porque nada há que indique o contrário.

Mas essa impressão natural de qualquer cidadão que por ali passa não representa a verdade. Com antiga indicação para ser tombado pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC), juntamente com outros imóveis antigos existentes em Feira de Santana, o secular prédio construído em 1878 está diretamente inserido na história da cidade, de tal modo que deveria ter algum indicativo da condição que ostenta.



Em estilo colonial, o prédio foi construído em 1878 e vendido à Câmara Municipal em 1888 para sediar os trabalhos da Casa Legislativa por 12 contos de réis (valor da época), pagos mediante seis prestações trimestrais de dois contos de réis. Em setembro de 1890, a Intendência (Prefeitura) e o Conselho Municipal ali passaram a funcionar. O primeiro intendente foi o coronel Joaquim de Melo Sampaio, cuja função era a mesma de um prefeito. Vale lembrar que só a partir de 1931 o gestor municipal passou a ser chamado de prefeito.

O prédio, conforme dados de caráter oficial de pesquisadores, foi construído pelo coronel João Pedreira, residente no distrito de Humildes. Ele era um rico negociante de fumo e gado, além de proprietário de extensas áreas de terra na região. Trisavô do comerciante e prefeito João Marinho Falcão, João Pedreira construiu um quarteirão de casas ao lado do Mercado Municipal (atual MAP), incluindo o prédio que sediou a Prefeitura. Por essa importante contribuição para o desenvolvimento da urbe, o logradouro onde está a escultura do artista Juraci Dórea, "Todos os Caminhos", e onde antes havia o Abrigo Santana, é denominado Praça João Pedreira.

A aquisição do imóvel pela Câmara de Vereadores foi liderada pelo médico Joaquim Remédios Monteiro, presidente da Casa, com a expressa autorização dos demais membros. O antigo Paço Municipal pode ser considerado de valor histórico incomparável, levando-se em conta que o prédio foi sede da Prefeitura, da Câmara de Vereadores, do Conselho Municipal, da Biblioteca da cidade, do Fórum e da agência dos Correios e Telégrafos.

Somente em 1926, com a inauguração e o funcionamento do novo prédio – o atual Paço Municipal Maria Quitéria –, na gestão de Arnold Ferreira da Silva, que concluiu a obra iniciada pelo seu antecessor Bernardino da Silva Bahia, o prédio anterior foi desativado, perdendo a relevância mantida durante 36 anos. Arnold Silva foi o penúltimo intendente. O último foi o seu sucessor, doutor Elpídio Raimundo da Nova, que governou no período de 1928 a 1931 e, a partir de 1929, constituiu-se no primeiro prefeito de Feira de Santana, com a nova denominação do chefe do Executivo municipal, passando de intendente, título que desapareceu, para prefeito, como permanece até os dias atuais.

Por Zadir Marques Porto

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