Nove
em cada dez alunos de escolas públicas brasileiras do 9º ano (antiga 8ª série)
não sabem, por exemplo, fazer contas com centavos. Essa é uma das conclusões de
um estudo feito com exclusividade para o UOL
Educação com as notas da Prova Brasil de 2009. O exame serve
para avaliar a proficiência dos estudantes e é utilizado no cálculo do Ideb
(Índice de Desenvolvimento da Educação Básica). Mais de 80% dos estudantes
brasileiros estão em unidades da rede pública.
De
acordo com o estudo, feito pelo economista Ernesto Faria, 89,4% dos alunos do
último ano do ensino fundamental tiveram desempenho “abaixo do básico” e
“básico” na disciplina. Isso quer dizer que tiraram notas menores que 300 na
prova –em uma escala que chega a 425 em matemática e a 350 em português.
Tirar
menos que 300 significa, segundo um documento do MEC (Ministério da Educação)
que divide as notas em faixas, que o estudante não consegue fazer operações de
adição, subtração, divisão ou multiplicação que envolvam centavos em unidades
monetárias, resolver problemas com porcentagens ou reconhecer um círculo e uma
circunferência.
As
classificações são usadas pelo movimento Todos pela Educação e por alguns
Estados para “categorizar” o conhecimento estudantil e têm quatro níveis:
“abaixo do básico”, “básico”, “adequado” e “avançado”. Um estudante no nível
“básico”, por exemplo, tem domínio mínimo do conteúdo que deveria saber; um do
“adequado”, por sua vez, tem domínio pleno.
No
caso de matemática, no 9º ano do fundamental, “abaixo do básico” significa uma
nota entre 125 e 225; “básico”, entre 225 e 300; “adequado”, entre 300 e 350;
“avançado”, entre 350 e 500. Esses números variam com a disciplina e a série.
A
situação é um pouco melhor em português: 77,6% dos estudantes do 9º ano das
escolas públicas de todo o país não têm o conhecimento adequado para o nível em
que estão. Esses alunos tiraram nota menor que 275 e não conseguem, por
exemplo, reconhecer “posições distintas entre duas ou mais opiniões relativas
ao mesmo fato ou tema”, de acordo com o documento do MEC.
Séries iniciais
Os
resultados da Prova Brasil também mostram que quase sete em cada dez alunos do
5º ano (68,5%) não conseguiram atingir o nível “adequado” em português. Eles
não sabem, por exemplo, localizar a informação principal em um texto, não
entendem uma metáfora ou mesmo inferem o que provoca um eventual efeito de
humor no que estão lendo.
Em
matemática, o desempenho é praticamente o mesmo: 69,8% têm conhecimentos
“abaixo do básico” ou somente “básicos”. Entre os que os estudantes deveriam
fazer, mas não conseguem, está ler informações e números apresentados em
tabelas ou identificar que uma operação de divisão resolve um dado problema.
A
Prova Brasil é aplicada para alunos do 5º e 9º anos do fundamental de escolas
públicas municipais, estaduais e federais, de áreas rural e urbana, que tenham,
no mínimo, 20 matrículas na série avaliada. O exame acontece a cada dois anos e
os dados mais recentes disponíveis são os da prova de 2009.
A
divisão por faixas do MEC é a mesma para todos os níveis. Por isso, as notas
mínimas para cada uma das categorias é diferente em cada série, já que o estudante
vai adquirindo conhecimentos ao longo de sua vida escolar.
Escala não é rigorosa, diz especialista
Para
Francisco Soares, especialista em avaliações em educação e professor da UFMG
(Universidade Federal de Minas Gerais), a escala montada não é rigorosa e
traduz o que o estudante deveria saber. “Esses números são um ponto de corte
razoável. A gente não está sendo rigoroso demais. Isso é o estado da educação
brasileira, há 15 anos. Nos últimos anos, tem havido algumas melhoras. Mas, ao
que tudo indica, elas têm sido produzidas por um número pequeno de alunos”,
afirma.
Um
total reduzido de estudantes com notas boas pode estar puxando a melhora dos
índices nacionais (como o Ideb), apesar dos resultados na Prova Brasil, afirma
Soares. “Os números sugerem que há alguns melhores. Eu brinco que, no Brasil, a
melhor maneira é treinar [no ensino superior] são ‘Ronaldinhos’. Se você é bom,
eu te dou mais, e você melhora. Mas isso não pode ser para a educação básica”,
afirma, lembrando que a educação básica é um direito constitucional.
De
acordo com Mozart Ramos, conselheiro do CNE (Conselho Nacional de Educação),
órgão vinculado ao MEC, os resultados mostram, pelo menos, os caminhos que
devem ser seguidos: mais investimento, melhor gestão, maior capacitação de
professores e um currículo que estimule o jovem a estudar.
“Do
ponto de vista da aprendizagem adequada, a gente ainda está patinando. Isso
tanto se aplica tanto no ensino médio quanto no final do ensino fundamental.
Onde estamos melhorando de forma de forma constante é nas séries iniciais do
fundamental”, diz.
Informações do UOL
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