Aula
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Os dados sobre a realização das tarefas de casa e a frequência dos estudantes nas aulas são registrados por todas as escolas da Rede Municipal de Educação de Feira de Santana. Essas informações são enviadas à Secretaria de Educação para que seja feito o acompanhamento do desempenho dos estudantes. A medida permite à Seduc pensar estratégias específicas para os casos de baixo rendimento e aprendizagem.
No entanto, a professora Catarina Melo, das turmas de 2º e 3º ano da Escola Municipal Doutor Antônio de Freitas Borja, do distrito de Maria Quitéria, decidiu agregar-lhes mais uma utilidade: ela e seus alunos organizaram esses dados em gráficos para estudar o “tratamento da informação”, um eixo teórico da disciplina Matemática. A ideia era comparar os números observados entre as duas turmas.
Ali mesmo na sala de aula, os próprios estudantes foram contabilizando em um gráfico colorido as estatísticas sobre quatro fatores referentes ao próprio desempenho e frequência: o número de vezes que eles estiveram presentes com o dever de casa cumprido; quantas vezes foram à aula, mas não fizeram suas atividades; quantas vezes justificaram suas faltas; e quantas não.
Ao fim da avaliação, os números identificados nas turmas de 2º (com um total 17 estudantes) e 3º ano (de um universo de 15 estudantes) foram respectivamente: 6 e 14, para os que se enquadraram no perfil de alunos que compareceram à aula com o dever de casa feito; 9 e 1, no caso dos que foram às aulas sem realizar suas atividades; dois (2º ano) foram os que justificaram suas ausências. Os números foram coletados no dia 5 de agosto.
A professora Catarina Melo explica que já havia percebido o baixo número de tarefas de casa cumpridas pelos estudantes do 2º ano quando comparados com os do 3º. Sua ideia era apresentar o assunto da disciplina vinculado a algo do cotidiano dos estudantes, relacionado à realidade deles. “Dessa forma, além do estudo da Matemática, eles poderiam observar um dado real. Pudemos mostrar essa diferença e estimulá-los a fazer o dever de casa”, aponta.
Ela acrescenta que a atividade mostrou-se mais reflexiva do que a proposta inicial. “Por conta da inocência, os alunos mais novos comemoraram quando viram o número maior no seu gráfico, sem entender o que aquilo, de fato, dizia. Então, eu os questionei: ‘mas isso é bom?”, conta.
A partir desta dinâmica, ela pode discutir a importância de se fazer as atividades de casa e também a interpretação, ou melhor, o tratamento da informação. Catarina também considera importante o fato de “dar uma nova utilidade e maior sentido às tabelas onde os dados são registrados. Não serviu meramente para registrar, fizemos também a análise”, comenta.
Cristine Cardim, diretora da Escola Municipal Doutor Antônio de Freitas Borja, se diz duplamente satisfeita com a atividade, uma vez que tem formação pessoal na área das Ciências Exatas. “São atividades mais atraentes e interessantes. Chamam mais a atenção por que é um material produzido pelos próprios alunos e por se tratarem de informações sobre o cotidiano deles mesmo. É também um estímulo para que eles mudem aqueles números”, defende a professora.
A criação de gráficos e o uso em sala de aula é uma das estratégias sugeridas aos professores e coordenadores pedagógicos da Rede Municipal de Educação durante as atividades complementares formativas coordenadas pelo Núcleo de Alfabetização de Feira de Santana, NAFS, do Departamento de Ensino da Seduc.
Todo mês, essas formações são dedicadas a um tema específico em cada área do conhecimento. Na área de Matemática, o mês de agosto teve como assunto as estatísticas e probabilidades.
Essas formações estão integradas à proposta do programa Gestão da Política de Alfabetização, fruto da parceria entre a Seduc e o Instituto Ayrton Senna. Nelas, são trazidas oficinas pedagógicas estruturadas com base no Caderno de Objetivos de Aprendizagem da Rede Municipal de Educação e na Base Nacional Comum Curricular para fornecer aos professores subsídios pelos quais é possível aperfeiçoar o processo de alfabetização dos alunos, tanto do ponto de vista operacional, de gestão, como teórico.
O programa traz propostas para o professor assegurar a aprendizagem em uma sala de aula diversificada e adota em sua organização o acompanhamento sistemático de cada aluno ao longo de todo o ano letivo, a partir de dois instrumentos: o acompanhamento mensal – mesmos dados analisados pela professora Catarina no início da matéria – e os livros lidos. Eles apresentam indicadores e metas que revelam a evolução do processo de aprendizagem do estudante.
De acordo com a professora Karina Macedo, coordenadora do NAFS e do programa em Feira, o objetivo é gerir a aprendizagem dos alunos. “No momento em que o professor consegue oferecer uma aula mais interessante, a turma se aproxima cada vez mais dos resultados positivos esperados”, destaca.
O programa foi adotado pela Seduc em 2017. Naquele ano, o atendimento teve um objetivo experimental, atingindo 26 escolas, 58 turmas de 1º ao 3º ano e 1.228 estudantes. Em 2018, o atendimento foi ampliado para os 8.329 estudantes das 402 turmas também de 1º ao 3º ano.
Este ano, a Seduc decidiu ampliar, por conta própria, o atendimento a todas as 125 escolas que têm turmas de 1º ao 5º ano. O núcleo conta com o apoio do programa. Desta forma, todos os estudantes de Ensino Fundamental I da Rede Municipal estão sendo alcançados pela iniciativa. Ao todo, são 1.072 turmas, com 15. 701 estudantes.
“Nossos objetivos estão centrados na aprendizagem significativa, ancorada nas vivências das crianças, ambiente escolar motivador e favorável à aprendizagem. Desta forma, conseguimos envolver nossos estudantes, tornando-os mais participativos e promovemos a compreensão do que foi trabalhado em sala de aula”, argumenta diretora de Ensino, Jozelia Oliveira.
“É nossa política de formação continuada para o professor que promove os resultados de aprendizagem, reverberando em sala de aula, com mudanças relevantes na prática docente”, observa o secretário Marcelo Neves.
O Núcleo de Alfabetização de Feira de Santana leva oficinas pedagógicas às formações de todas as sete áreas do conhecimento concernentes ao Ensino Fundamental I – Língua Portuguesa, Matemática, Ciências, Geografia, História, Arte e Educação Física. Nesses momentos, são propostas atividades que facilitam a compreensão dos alunos acerca dos assuntos discutidos em sala de aula. Que tornam as aulas mais interessantes.
Todo mês, um assunto específico ganha destaque em cada área, durante as oficinas. Em Matemática, por exemplo, os três temas enfatizados nos últimos três meses foram: “Sequência numérica: desvendando suas relações e padrões”; “Resolução de problemas: possibilidades e desafios”; e “Estatística e probabilidade: o certo, o provável e o impossível”.
A discussão dos assuntos é pensada de forma interdisciplinar sempre que possível. Um exemplo trazido para as oficinas de Matemática deste mês foi a utilização dos tipos mais comuns de lixos produzidos pela comunidade escolar para a elaboração de gráficos. A sugestão foi trazida pela professora Alexsandra El-Chami Santos Reis, formadora da Rede Municipal.
“A ideia é a seguinte: os estudantes devem separar os resíduos por tipo de material: alumínio, plástico, papel, restos de alimentos, entre outros. E aí, eles vão coletar, através da pesquisa, quais são os tipos de lixo que eles mais produzem. Além da Matemática, com a criação dos gráficos, eles podem pensar sobre sustentabilidade, entender o que está por trás da produção daqueles resíduos, seu impacto ambiental, coleta seletiva, consumo, alimentação saudável, etc. E estes assuntos dizem respeito a outras disciplinas, como Ciências ou Geografia”, explica a professora Alexsandra.
Além da criação de gráficos, Alexsandra apresentou outras quatro sugestões de possíveis atividades em que é possível discutir estatística e probabilidade em sala de aula: o jogo da senha, o jogo das tampinhas, o espaço amostral e a pesquisa de opinião.
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