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sábado, 31 de julho de 2021

'Caixa misteriosa' de navio nazista aparece em praia da Bahia

 

'Caixa misteriosa'

 Era início da manhã de terça-feira, dia 27 de julho, quando a tranquilidade habitual da Praia de Santo Antônio, em Mata de São João, litoral norte da Bahia, se quebrou. Acostumado a acordar cedo e logo olhar para o mar, Antônio Silva* estranhou uma aglomeração que se formava na areia. A cisma aumentou quando uma viatura da Polícia Ambiental chegou para averiguar a situação. A causadora de tamanho fuzuê estava no centro da rodinha de curiosos: uma caixa misteriosa que a maré havia trazido naquela manhã.

“É um baú do tesouro”, teorizou uma das testemunhas. “Que nada! É só um pedaço de madeira”, retrucou um mais cético. “Rapaz, nem uma coisa nem outra: isso só pode ser maconha”, especulou, esperançoso, um banhista que passava pelo local. Mas, ninguém ali chegou nem perto da verdadeira origem do fardo pesando mais de 200 quilos: nem tesouro, nem maconha e nem madeira. O material é parte da carga de um navio nazista afundado no dia 4 de janeiro de 1944, em plena Segunda Guerra Mundial.
 
Sem saber do que se tratava a tal caixa, ninguém ousou tocar o objeto. Só mesmo a chegada das autoridades encorajou os curiosos, que se aproximaram e perceberam que se tratava de borracha. Restava, agora, tirá-lo dali e descobrir qual era  origem - tarefa, aliás, difícil.
“Pegaram até um carrinho de mão, mas não conseguiram movê-lo do lugar”, relatou Antônio Silva. Segundo ele, até a manhã desta sexta-feira (30), a peça ainda não tinha sido retirada do local onde a maré a deixou.
 
Mesmo assim - e à distância - uma explicação começou a se desenhar. Ela envolve nazistas, armas, piratas e até o óleo que contaminou as praias do litoral nordestino em 2019 Quem desvendou o mistério foi o oceanógrafo Carlos Teixeira, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC).
 
Não é a primeira vez que objetos como o fardo de borracha encontrado na Praia de Santo Antônio aparece no litoral. Desde agosto de 2018, fardos parecidos foram encontrados em praias do Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e até na Flórida, nos Estados Unidos.
 
Na época, o povo achou estranho, mas ninguém foi a fundo averiguar de onde aquilo tinha surgido. Mas tudo mudou em agosto de 2019, quando manchas de óleo começaram a aparecer nas mesmas praias em que os fardos foram encontrados um ano antes.
“Pensamos que poderia haver alguma ligação entre esses dois fatos”, relembra Carlos Teixeira.
 
Pesquisadores deram uma olhada em um dos fardos encontrados e notaram um detalhe que, antes, tinha passado despercebido: uma inscrição dizendo “Made in Indochina”. O problema é que essa colônia francesa foi desfeita em 1954, dando lugar a países como Laos, Camboja e Vietnã. Ou seja: o que quer que fossem os objetos, eles tinham sido produzidos há, ao menos, 65 anos.
 
Intrigado, o professor resolveu pesquisar mais para entender o que uma borracha indochinesa fazia no litoral nordestino. Após algumas horas na frente do computador, Carlos encontrou um vídeo de 1944 que mostrava pescadores recolhendo objetos parecidos nas águas nordestinas. Os fardos em questão eram a carga de um navio do Exército Nazista que foi afundado no dia 4 de janeiro daquele ano, no auge da Segunda Guerra Mundial.
 
SS Rio Grande
Em um artigo, o professor Carlos Teixeira explica o episódio. Segundo ele, manter o Exército Nazista, uma das maiores máquinas de guerra da história, não era tarefa fácil e demandava muitos recursos. A borracha, usada nos pneus e armas, não era produzida no território alemão e precisa ser importada de lugares como a Indochina.
 
Só que percorrer os 10 mil quilômetros que separavam esses países não era tarefa fácil. Para isso, os alemães utilizavam navios chamados “Blockade Runners”, que eram ágeis e conseguiam furar os bloqueios marítimos feitos pelos Aliados. Também costumavam usar rotas alternativas, contornando a América do Sul e chegando à Europa pelo Oceano Atlântico.
Embarcação foi construída em 1939 (Foto: Reprodução)
 
Mas nem sempre a estratégia dava certo e, naquele 4 de janeiro de 1944, o SS Rio Grande - o navio alemão usava um nome em português para confundir os inimigos - foi interceptado pelo contratorpedeiro USS Jouett e pelo cruzador USS Omaha no mar entre Natal e a Ilha de Ascensão, no nordeste do Brasil, ponto estratégico para os Aliados - rivais dos nazistas.
 
Os alemães tentaram fugir, mas foram abatidos pela Marinha Americana. Uma pessoa morreu, 71 ficaram feridas e o navio, junto com sua carga, foi parar a 5,7 mil metros de profundidade - e lá ficou até agosto de 2018.
 
Informações e fotos do CORREIO 24 HORAS 

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