O Museu Casa do Sertão, entidade da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), convida o público a prestigiar a segunda edição do Festival de Cinema Sertão em Cena, com criações, ritmos e poéticas do universo cultural nordestino, presente nas produções do cineasta baiano Olney São Paulo. A iniciativa propõe um mergulho no panorama visual evidenciando a importância do legado cinematográfico do artista de Riachão do Jacuípe, entusiasta e expoente do Cinema Novo, que pautou nas telas do cinema a valorização de aspectos socioculturais do sertão baiano, focalizando a geografia, sua gente e lutas.
Em sua trajetória de exímio comunicador, além da sagaz lida com limitações técnicas, orçamentárias e ideológicas, Olney enfrentou a brutalidade do pensamento político e repressivo vigente do regime militar. Glauber Rocha inclusive, o descreve enquanto “verdadeiro mártir do cinema brasileiro” que deixa um espólio imagético-discursivo fundamental para se pensar questões regionais, para além da polarização Nordeste (precário) e Centro-Sul (opulente), concepção que deliberadamente ofusca identidades, representações e leituras. O Nordeste de Olney é indócil, numa refinada crítica social que provoca subjetividades e inusitados debates, fundamentais à nossa realidade.
No âmbito museológico, a produção cinematográfica é também compreendida enquanto testemunho material da humanidade, um patrimônio-acontecimento, levando em consideração a natureza dessa produção enquanto amálgama das demais artes, que lida de forma dinâmica, com aspectos representativos de tempo, espaços e ideias.
O projeto visa estimular a apreciação dos públicos (no plural entendendo a sua não uniformidade) às produções regionais que abordam, a partir de cenas, sequências e contextos, suas relações a enunciados históricos, sociais e as correntes artísticas e intelectuais. A proposta traz ainda discussões com convidados problematizando aspectos e possibilidades da produção audiovisual no interior baiano.
Os filmes serão exibidos sempre às quintas-feiras do mês de julho, às 16 horas, na página do Museu no Facebook, no endereço: https://www.facebook.com/museucasadosertao/
Com estreia no dia 8 de julho, o festival traz três icônicas produções de Olney São Paulo, da década de 1970. A primeira exibição será o curta metragem ‘Como Nasce uma Cidade’ (1973), 35 mm, duração de 10 minutos, em preto e branco, roteiro, montagem, direção e coprodução de Olney São Paulo. Após exibição haverá um bate papo, no Instagram do Museu, sobre a produção alusiva aos 100 anos de fundação da cidade de Feira de Santana, com o professor doutor Claudio Cledson Novaes, do Departamento de Letras e Artes da Uefs, e Cristiano Silva Cardoso, diretor do Museu Casa do Sertão.
No dia 15 de julho será exibida a produção ‘Sob o Ditame do Rude Almajesto: Sinais de Chuva’ (1976), 16 mm, 13 minutos. Filme colorido com roteiro e direção de Olney São Paulo, com argumento inspirado na crônica de Eurico Alves Boaventura e câmera de Edgar Moura. Após o filme, os participantes realizam conversa, conduzida pelo servidor do Museu Kaony Marques Moreira, com Yves São Paulo, sobrinho do cineasta, e a professora doutora em Literatura pela UFBA, Dinameire Rios.
Para finalizar o Festival, exibição do longa ‘Ciganos do Nordeste’ (1976), 16 mm, 70 minutos, colorido, roteiro, direção e produção de Olney, que foi concluído em 1978, após sua morte, pelos amigos Orlando Senna e Manfredo Caldas, seguindo as orientações deixadas por Olney São Paulo.
Vale conferir o Projeto Sertão em Cena e seus expedientes reflexivos sobre patrimônio cultural, numa vinculação direta entre passado e presente, a partir das movimentações cênicas e nas discussões propostas sobre o protagonismo estético de Olney São Paulo.
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