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quinta-feira, 29 de agosto de 2024

Das boiadas à grandiosa Expofeira

 

“Terra das boiadas”, ou “cidade das boiadas” como chegou a ser chamada, durante bom tempo, pela sua origem intrinsecamente ligado ao comércio de gado que, no início do século XVIII, em grandes manadas, provindas do alto sertão baiano, de Minas Gerais, Piauí e Goiás, obrigatoriamente por aqui passavam transitando pela estrada real de Capoeiruçu, com destino ao porto de Nossa Senhora do Rosário de Cachoeira, à margem do Rio Paraguaçu, na época, a mais importante vila da Bahia, Feira de Santana cresceu tendo como um dos pilares máximos desse progresso a pecuária.

Consolidando esse potencial surgiu a Exposição Agropecuária de Feira (Expofeira) que, este ano, a ser realizada no período de 1 a 8 de setembro no Parque de Exposições João Martins da Silva, sob as expensas da Prefeitura Municipal deve alcançar êxito absoluto reafirmando a marcante tradição. O evento contribui decisivamente na promoção do desenvolvimento da pecuária, através da comercialização de reprodutores de alto padrão genético, exposição e venda de máquinas e implementos agrícolas, insumos, veículos e outros itens indispensáveis aos que praticam o cada vez mais tecnológico agronegócio no país.


Mas para chegar a esse estágio garantiu a  hoje metropolitana Feira de Santana um honroso lugar entre os mais importantes polos da pecuária no país, vale lembrar etapas vencidas pelos antigos fazendeiros, vaqueiros e agregados desde  o antigo ‘arraial de Santana’. O crescente comércio de gado que era realizado de forma ainda desordenada fez surgir um local agregador, onde os negócios poderiam ocorrer de forma própria.

Assim foi instalado o primeiro campo do gado, que ocupava toda a área onde estão localizados o Fórum Desembargador Filinto Bastos e o Colégio Municipal e que foi, durante muito tempo, ao lado da feira-livre, no centro da cidade, o grande polo comercial da princesa do sertão e, conjuntamente, exponencial atração turística e orgulho dos feirenses natos. Essa ligação com a bovinocultura, nascida de forma natural, determinou o surgimento de forte sentimento pela pecuária que logo esboçou significativa presença no cenário estadual. Todavia, talvez por conta da pequena área territorial do município - 1.304,425 km², contando majoritariamente com minifúndios, mais adequados à agricultura familiar, no lugar de possíveis grandes rebanhos de criação extensiva, passou-se a criação seleta de animais de raça, reforçando a identidade da terra com o gado.

O crescimento marcante do negócio de animais vivos, às segundas-feiras, no campo do gado, já em novo local denominado Campo do Gado Novo, parte leste da cidade, referenciava a posição da Princesa do Sertão no segmento da pecuária. Assim em 1967, com a meta de nortear o setor surgia a Associação Rural de Feira de Santana, fundada pelo pecuarista Gil Marques Porto e logo a ele se juntaram outros idealistas como Vicente Quezado Leite, Francisco Teixeira e Antônio da Costa Falcão, dispostos a levar adiante esse trabalho. Era prefeito, o professor Joselito Amorim, que abraçou a ideia do grupo de implantar um parque de exposições no município.

O pecuarista João Martins da Silva, proprietário de grande área à margem da BR-324 , procurado por Gil Marques Porto não só o apoiou, como disponibilizou gratuitamente 10 tarefas de terra para implantação do parque “contanto que não coloquem meu nome”, solicitou, diante da ideia que nasceu durante o  diálogo de homenageá-lo. A escritura da área foi passada em nome da Prefeitura e em seguida para a Associação Rural, posteriormente transformada em Sindicato Rural de Feira de Santana e hoje Sindicato dos Produtores Rurais de Feira de Santana.  A construção do parque foi custeada por criadores, amigos e empresas locais ao estilo “livro de ouro”.

O grande trunfo foi a inauguração do Parque de Exposições (que depois ganharia oficialmente o nome de João Martins da Silva). A festa da agropecuária foi no dia 19 de fevereiro de 1967 marcando a abertura da I Exposição Agropecuária de Feira de Santana, que se estendeu até o dia 26 de fevereiro. O governador Lomanto Júnior esteve presente e outras lideranças políticas. A partir daí tornou-se anual a denominada Expofeira, que ganhou característica própria, extrapolando a ideia de um evento meramente regional para ganhar a presença de criadores de vários estados do Nordeste, do Sudeste e até do Sul.

O que se via eram animais de alta linhagem, campeões nacionais, espécies seletas mostradas ao público e, quando vendidas, alcançando altas cotações. Os leilões vieram alicerçar mais a importância do evento que também passou a contar com a presença de empresas da área agropecuária para a comercialização de maquinas e equipamentos, instituições financeiras, unidades de casas de comércio e serviços, bares, restaurantes e posteriormente espaço para shows artísticos. Desse modo, de acordo com a tendência natural da época, sem perder a ideia original, o evento se expandiu para atender melhor a sociedade.

A cada ano o volume de negócios feitos no parque, justificava a realização do evento e os investimentos aplicados pela Prefeitura Municipal, para ampliar e melhorar os espaços oferecidos. Alguns ajustes necessários foram feitos, como a retirada dos shows musicais da área destinada a abrigar os animais, para evitar o estresse a que eles eram submetidos. A partir de 2019 -, ocasião da última Expofeira -, houve um hiato na sua realização, notadamente pela agressiva presença do Covid, que mudou os rumos do planeta com uma mortandade assombrosa que não deixou de fora Feira de Santana e a Bahia.

A vitoriosa volta da Exposição Agropecuária de Feira de Santana  este ano, reata um passado  de  vislumbre de criadores visionários da época, com a realidade tecnológica atual, num prisma de perpetuação da lírica história de uma terra que não pode olvidar o ruído das boiadas, o ranger do carro de boi e o aboio do vaqueiro. Construída assim, com os pés no chão, esta é a Terra de Maria Quitéria, capaz de superar os mais difíceis obstáculos para glorificar o indiscutível e inalienável título de Princesa do Sertão. 

Por: Zadir Marques Porto

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