Após um dia inteiro de trabalho, muita responsabilidade e a divisão
entre as tarefas domésticas, ter um momento lúdico e divertido no turno
da noite na escola é extremamente revigorante, além de um estímulo para
encarar as aulas. É por esta razão que as atividades do Programa Música
na Escola conquistaram também os alunos da Educação de Jovens e Adultos
(EJA).
A iniciativa é da Secretaria Municipal de Educação, que oferece aulas
em várias modalidades para 4.500 alunos da Rede Municipal de Ensino -
Ensino Fundamental, Educação Infantil e agora também na EJA. A inclusão
dos estudantes da EJA e também das creches, com aulas de musicalização,
deu totalmente certo. Pelo menos na modalidade que inclui jovens e
adultos, a proposta é inovadora, bastante incomum nas escolas públicas.
Geralmente as escolas incluem conteúdos de música nas aulas ou a música
é utilizada como ferramenta de aprendizagem, isto é, como recurso
didático, explica a musicista e regente Rosa Eugênia Villas Boas,
coordenadora técnica do programa. "Por outro lado, a oferta de aulas na
EJA não é comum, existem algumas poucas instituições que oferecem a
música e outras linguagens como oficinas. É o caso, por exemplo, do
Centro Municipal de Educação de Trabalhadores Paulo Freire (CMET Paulo
Freire), em Porto Alegre, criada para fins exclusivos da EJA.
O objetivo do programa Música na Escola, instituído no ano de 2015, é
promover o contato com a música independentemente da idade. Há cerca de
seis meses, os estudantes da Escola Municipal Dr. Clóvis Ramos Lima, no
Parque Ipê, e Erasmo Braga, na Rua Nova, têm acesso à nova atividade, no
turno da noite. As aulas integram o projeto Instrumenta e são
ministradas semanalmente por professora da área.
Os estudantes foram contemplados com flautas doces e teclados, porém,
os professores vão além. “Alguns deles já tiveram contato com
instrumentos como o violão, por exemplo, mas não tiveram a oportunidade
de aprender. Ajudamos estes alunos e também promovemos diversas
atividades de musicalização. Este é um momento de descontração para
eles”, explica a monitora do programa, Nete Santos, responsável pelas
aulas de flauta doce.
“Esses alunos, normalmente, passam o dia todo trabalhando ou em
atividades domésticas. Ter um momento diferente, divertido e lúdico,
eleva a autoestima deles. Apesar de serem muito críticos em relação às
atividades nas aulas de música, pois se cobram mais do que as crianças,
esta tem sido uma experiência positiva”, avalia Marcia Costa,
coordenadora do Projeto Instrumenta.
Sidney Cavalcante, aluno da EJA na Escola Municipal Dr. Clóvis Ramos
Lima, já possuía um violão há dois anos, mas ainda não havia tido a
oportunidade de realmente aprender a tocá-lo. “Temos agora a chance de
aprender música de graça e durante o tempo da escola, estou achando isso
ótimo. Sempre quis saber tocar o violão que eu já tinha e agora posso”,
garante.
A turma de EJA do monitor Rubem Marcio Lobo, que atua na Escola Erasmo
Braga, é composta por alunos na faixa etária entre 45 e 75 anos. “É uma
turma atípica, precisamos adaptar as atividades para a realidade deles.
Usamos a música como terapia ocupacional, como interação e
principalmente como estímulo para continuarem vindo para escola”,
relata. Os estudantes têm aula de teclado.
Segundo Rubem, o principal desafio é compreender os anseios destes
alunos. O monitor explica que na EJA as experiências, expectativas e
prioridades são diferentes dos alunos do Ensino Fundamental; desta
forma, as aulas de música ganham um caráter mais lúdico e divertido.
“Aprendo coisas diferentes, distraio a mente. Posso não aprender como
os mais novos, mas é um momento divertido pra mim”, conta Filomena Lima,
aluna da EJA.
“Todos eles precisam de mais motivos e incentivo para estarem na
escola, para ter vontade de vir aprender. Tudo o que melhora a
autoestima deles é muito válido”, acredita a professora Carla Magda
Janon Gotardo, diretora da Clóvis Ramos Lima.
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