Miranda
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Numa obra, realidades duras e ‘causos’ memoráveis, todos narrados com humor. Em outra, uma história ambientada no cenário musical dos anos 1980, tendo como pano de fundo o rock, trilha sonora da redemocratização do país. Parceiros em projetos sempre criativos, os dois autores apresentam seus livros na próxima quarta-feira, 13, a partir das 18:00, no Seriguela Petiscaria.
O primeiro é de autoria do publicitário e compositor Antonio Miranda, 72 anos, que lança seu livro de estreia: ‘O que não me sai da lembrança – Muitas verdades e algumas mentiras em desordem cronológica’ (P55 | 95 páginas | R$ 30). A orelha do livro é assinada pelo segundo escritor a apresentar nova obra, o escritor e roteirista Victor Mascarenhas. Ele é o autor de “O som do tempo passando”, seu quinto livro.
‘O que não me sai da lembrança – Muitas verdades e algumas mentiras em desordem cronológica’ tem também prefácio do maestro Almir Medeiros e contracapa do poeta e publicitário Carlos Sarno. Sem se preocupar com a cronologia dos fatos, Miranda compartilha com o leitor episódios vividos por ele que ambientam a própria história do Brasil.
Estão lá vivências com personalidades como Caetano Veloso, Fernando Faro, Rogério Duprat, Adoniran Barbosa e Damiano Cozzella, além da participação em festivais de música e peças de teatro “em um período muito difícil, pós-AI5, quando a gente tinha que falar por linguagem cifrada”, destaca Miranda.
“É importante tornar público o que a gente viveu, inclusive a própria censura no período em que estava sendo instalado no Brasil o sistema Paulo Freire de alfabetização. A memória tem que ser registrada para que mais pessoas tomem conhecimento”, explica o autor, que foi provocado pelo maestro Almir Medeiros a colocar no papel as histórias que sempre compartilhava.
Definido pelo autor como um livro de “episódios vividos, com floreios e molduras verbais que enfatizam a verdade”, O Que Não Me Sai da Lembrança reúne 51 histórias que têm o bom humor como marca. “Até tratando de coisas sérias, eu procuro me divertir. Você não tem que eliminar o otimismo, nem puxar as coisas pra baixo, mas contar vivências e coisas duras, mas de uma forma que você resista. Fica mais divertido, menos rancoroso. Resistir sempre”, conclama.
O livro reúne também ‘causos’ que se passam em Feira de Santana, como as histórias de Lili Bolero, quando era apenas o soldado Simas no Tiro de Guerra17, relatos do teatro feirense, da política estudantil e de militantes. “Tem até a história do Jegue Elétrico, muitos causos que se passam em Feira”, conta Miranda.
“O som do tempo passando”
O pano de fundo do quinto livro de Victor Mascarenhas é o espírito de contestação e descoberta, típicos da época em que os brasileiros recém conquistavam sua liberdade. Nesse cenário, quatro garotos formaram uma banda de rock que acabou junto com suas adolescências, sem fazer sucesso, gravar discos ou fazer shows profissionais.
Os garotos cresceram, foram cuidar das suas vidas e se reencontram décadas depois, num tempo em que a maioria dos jovens não ouve mais rock e que o Brasil mostra sua cara, cada dia mais assustadora. Essa é a história de “O som do tempo passando”.
O livro é ainda o primeiro lançamento da Cafeína Produção de Conteúdo, o selo do próprio autor, que resolveu assumir o comando da sua carreira e sair do esquema das editoras tradicionais. Mesmo morando em Salvador e com compromissos profissionais fora do estado, Victor fez questão de lançar seu novo trabalho em Feira de Santana, cidade onde nasceu. “Sempre dou um jeito de lançar meus livros em Feira, e faço isso com o maior prazer. Estou sempre por aqui, por causa da minha família e dos amigos que tenho na cidade”.
“O som do tempo passando” narra o encontro dos jovens guitarristas Ricardo e Henrique, o baixista Aílton e o baterista Miguel, e o reencontro - mais de trinta anos depois - do entediado e bem sucedido advogado Ricardo, com o rockstar fracassado Henrique, o silencioso e talentoso músico Aílton e o simpático professor de história Miguel. O pretexto é um ensaio da velha banda, o repertório são as lembranças e diferenças entre o que eles sonhavam ser e o que se tornaram; e a trilha é o bom e velho rock’n’roll.
SOBRE O AUTOR
Victor Mascarenhas é escritor e roteirista. Sua carreira literária começou em 2008, quando venceu o Prêmio Braskem Cultura e Arte, da Fundação Casa de Jorge Amado, e lançou “Cafeína”, prefaciado pelo escritor Fausto Fawcett, que definiu assim a obra: “Os doze contos de ‘Cafeína’ são um passeio dantesco por vidinhas que andam em círculos de imobilidade mental, social, sentimental... Victor sabe muito bem derramar sal na ferida das vidas vazias”. Um dos contos do “Cafeína”, “Leão-marinho”, foi adaptado para o cinema pela Oi Kabum em 2010 e exibido no Festival do Rio, em 2012.
Nos últimos anos, Victor tem se dividido entre a literatura e o audiovisual, tendo escrito o longa-metragem “Tonho” (em produção), em parceria com o cineasta francês Bernard Attal, e trabalha no desenvolvimento de uma série para TV, baseada em um dos seus contos, para a Turner Internacional.
DEPOIMENTOS DE QUEM JÁ LEU ‘O QUE NÃO ME SAI DA LEMBRANÇA’
“O livro é muito saboroso de se ler. Recebi no meio de tarde e garrei nele. Li inteirinho. É delicioso, leve, bem-humorado e muito bem escrito. Belo volume de crônicas de vivências e convivências. Algumas, como ‘Virgem de novo’ e ‘Achou é seu’ são antológicas” – Escritor, jornalista e poeta Luis Pimentel.
“O Miranda é daqueles sujeitos de boa conversa, bom de garfo (assim como eu), um grande compositor, um grande publicitário e, ainda de quebra, toca saxofone nas horas vagas. (...) Eu sempre adorei ouvir suas histórias, falando de alguns personagens marcantes na sua vida, numa narrativa absolutamente cativante, como é próprio dos seus textos” – Maestro Almir Medeiros.
“Escreve que nem bordasse/Numa colcha de histórias/Saudades, ironias, abraços/Seus retalhos de memória/De quem sabe pelo dom/Que tem de melodiar/Que só o silêncio conta/O que o som não sabe contar” – Poeta e publicitário Carlos Sarno (em cordel).
Fotos Ricardo Santiago
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