A casa residencial do casal português que, ali instalado, seria responsável pelos primeiros passos da hoje efervescente metrópole de Feira de Santana
Dúvidas existem. Comprovação não. Este é o panorama que circunda o Casarão dos Olhos D’Água, considerado um valioso marco da história da Princesa do Sertão e, para alguns, a casa residencial do casal português Domingos Barbosa de Araújo e Ana Brandoa, que, ali instalado, seria responsável pelos primeiros passos da hoje efervescente metrópole de Feira de Santana.
Histórias na pura oralidade são aceitas em alguns casos, geralmente quando remontam a uma época muito distante e a locais desprovidos de meios capazes de registrar fatos para a posteridade. No caso do Casarão dos Olhos D’Água, a situação é mais complexa; embora tenha relação com o século XVIII, não é tão distante assim.
O tenente Domingos Barbosa de Araújo teria edificado o imóvel simples, apenas com o pavimento térreo, na ampla gleba das Fazendas Olhos D’Água e Boa Vista, onde residia com sua esposa, Ana Brandoa. Em torno da casa, teria erguido uma capela simples, configurando um preito de fé a Senhora Santana e a São Domingos, dando origem à atual Catedral de Santana.
Olhando por esse ângulo, desfigura-se totalmente a versão, pela distância entre o Casarão e a Catedral de Santana, que é muito superior e totalmente fora do perímetro enunciado, conforme o historiador Carlos Mello. Do mesmo modo, ele afirma que o cruzeiro que antes existia em frente ao prédio foi implantado em 1912, o que significa, também, uma enorme diferença de tempo em relação à construção da casa.
Como não há base documental, alguns pesquisadores preferem não falar oficialmente sobre o tema, embora deixem a entender que o casarão não foi residência do casal e sim um provável “rancho”, local de repouso e descanso dos vaqueiros, tropeiros e viandantes egressos do sertão com destino ao porto de Cachoeira, devido à abundância de água limpa e doce de lagoas e fontes. Outro detalhe observado é que, na época, os fazendeiros, geralmente portentosos, moravam em prédios tipo ‘sobrado’, com pavimento superior, e quando eram apenas térreos, que era menos comum, ocupavam uma área muito maior e em estilo arquitetônico bem diferente do apresentado pelo casarão.
O padre Renato de Andrade Galvão, cura da Catedral de Santana, falecido em 1995 e maior pesquisador sobre a história de Feira de Santana, nunca se referiu com profundidade a essa questão, talvez por falta de questionamento, embora tivesse documentos importantes relacionados ao surgimento do município. Seu acervo documental foi para os arquivos da Igreja em Salvador. Há alguns anos, o antigo casarão, já em estado de desabamento, foi substituído por outro, construído no mesmo local, mas com visíveis diferenças, conforme se expressaram técnicos na época.Assim, o Casarão dos Olhos D’Água, referenciado como elemento da história do município, sequer está localizado nos Olhos D’Água e sim no bairro do Areal, havendo engano até na delimitação em relação ao local onde teria existido a antiga propriedade do casal Domingos e Ana Brandoa. Uma história inconclusa, pelo menos até agora!
Por: Zadir Marques Porto
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