A estação surgiu por iniciativa de um grupo de pessoas da sociedade, ligadas ao Partido Social Democrático (PSD)
Quem transita pela Rua Professor Geminiano Costa, lateral com o antigo Feira Tênis Clube, hoje Centro Municipal de Educação Inclusiva dr. Colbert Martins da Silva, marcante obra do atual governo municipal, por certo verá um prédio de cor indefinida, com a pintura sofrendo o desgaste natural do tempo, de aparência fria e indiferente ao que ocorre em derredor. Por certo, sendo uma pessoa jovem ou residente em outra terra, jamais irá imaginar que aquele prédio sisudo foi um cenário de imensa efervescência, palpitando alegrias e emoções de muitas gerações.
Inaugurada em 28 de agosto de 1950 a Radio Cultura de Feira de Santana - ZYN 24, Onda Média, “A Emissora da Família Feirense” como logo foi batizada, surgiu dos meandros políticos de então, para um combate direto com a Radio Sociedade de Feira, dois anos mais velha. E essa luta logo se descortinou a ponto de funcionários das duas empresas adotarem postura de adversários e muitos ouvintes também. Quem ouvia uma rádio evitava ouvir a outra!
A estação surgiu por iniciativa de um grupo de pessoas da sociedade, ligadas ao Partido Social Democrático (PSD), como Almachio Alves Boaventura (prefeito a partir de 1951), Eduardo Froes da Mota (prefeito em 1944), Hamilton Cohim, Newton da Costa Falcão (prefeito 1972/1973), Gilberto Costa, doutores Salústio de Azevedo, Welf Vital e Mário Borges. O comerciante Oscar Marques, que despontava muito forte no partido, foi indicado para a presidência do grupo que contou ainda com Edite Marques, Ângelo Pedra Branca e outros coadjuvantes.
Dotada de amplo auditório para 300 pessoas sentadas e privilegiada pela localização estratégica, no centro da cidade, a Cultura ganhou enorme projeção, principalmente devido aos programas de auditório feitos aos domingos, semelhantes aos realizados hoje pela televisão. Havia ainda programas musicais noturnos apreciados pelos ouvintes a exemplo de Duas Vozes e Um Violão aos sábados com os cantores Ivanito Rocha e Raimundo Lopes, apresentado por Dourival Oliveira.
O programa infantil Brasil de Amanhã, dirigido pela professora Alcina Dantas, aos domingos, obteve um sucesso incomum numa época em que ser criança significava viver com limites extremos. Havia também o ‘Domingo Matinal’ conduzido pelo respeitado Raimundo Oliveira e Itajay Pedra Branca, que deveria ter 10 anos de idade. Calouros e cantores consagrados da cidade atraiam o público lotando o auditório.
Os mais importantes cantores brasileiros da época se apresentaram na Cultura, dentre eles: Cauby Peixoto, Francisco Carlos, Nelson Gonçalves, Francisco Alves, Adelaide Chiozzo, Carmélia Alves, além de artistas internacionais como Gregório Barrios e Esther de Abreu. As peças teatrais montadas no auditório da Cultura eram outro sucesso garantido. Em 1956 o radialista e cantor Ivanito Rocha, lançou de forma inusitada, o programa Ritmo Alucinante das 12 às 12h30min, o primeiro programa de rock'n'roll do rádio baiano.
Em 1960, 1961 e 1962, Ivanito promoveu o Festival de Rock, e em um deles trouxe a esta cidade Demétrius, que era o ‘rei do rock’ no país. O trio Os Divinais, considerado idêntico ao Irakitan do Rio Grande do Norte, e cantores como Silton Brandão, Léo Ramos, Antonieta Corrêa, Zeny Sales, Geraldo Borges, Gerson Guimarães, tinham público garantido. Programas de auditório com J. Magno, Francisco Almeida Chico Caipira e Hiberlúcio Sousa Cacau, marcaram na RC.
“A Bodega do Pinote” programa de humor, com o casal Marina e Pinote teve picos de audiência. Havia ainda os musicais com Brocoió e Quita, e Maru e Marilda. A Cultura manteve sempre um bom departamento de esporte e em 1968 o diretor Oscar Marques contratou toda a equipe esportiva da Cultura da Bahia (Salvador) comandada por Newton Spínola Cardoso. Em 13 de junho de 1974 a emissora foi punida duramente pelo governo federal. O radialista Lucílio Bastos no Grande Jornal da Manhã, às 7 horas, apresentou uma entrevista do deputado federal Francisco Pinto criticando o presidente do Chile, Augusto Pinochet.
Era período de governo militar e o presidente Ernesto Geisel determinou o fechamento da Cultura, só reaberta em 26 de julho de 1985, portanto 11 anos depois. Sob a direção da professora Miriam Marques a emissora se reorganizou, mas em 20 de setembro de 1999 foi adquirida pela Igreja Universal do Reino de Deus, passando a funcionar em nova sede, na Rua Castro Alves. Hoje o vetusto prédio que viu a Radio Cultura nascer e crescer, permanece estático como envolvido em lembranças do brilhante tempo que passou!
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