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terça-feira, 29 de outubro de 2024

 

O avanço da tecnologia não reduziu, até o momento, o uso do relógio; todavia, a falta de novos relojoeiros é o que preocupa, segundo o experiente Aleucik Almeida

Relojoeiro - uma profissão antiga, tão antiga quanto o que ele faz ou conserta, mas ainda importante nos dias atuais, contudo sem grande perspectiva de haver renovação. A facilidade que hoje existe de uma pessoa conhecer a hora por outros meios nada tem a ver com isso e não diminuiu a necessidade da profissão nem do aparelho, que é visto em milhares de braços, paredes e em outros locais, em todos os cantos do mundo.

O relógio, na sua forma mais antiga - relógio de sol, ampulheta e outros tipos rudimentares em relação aos atuais -, surgiu há mais de 1.200 anos para suprir a necessidade dos nossos antepassados de se situar no tempo, como preconizado pelo astrofísico italiano Galileu Galilei (1564-1642). Claro que, para chegar ao sistema e modelos atuais, foram muitos anos e muito trabalho.

O primeiro relógio de pulso teria sido fabricado por Abraham Louis Breguet em 1814, para atender a um desejo de Carolina Murat, verificando-se a partir daí a natural evolução; todavia, até hoje o relojoeiro não perdeu a característica de artesão, com o que concorda o experiente Aleucik Almeida Santos - Lêu, com mais de 40 anos de profissão. Ele não é o mais antigo relojoeiro da cidade, mas desfruta de inegável prestígio, inclusive como presidente da Associação dos Artesãos do Mercado de Arte Popular (MAP).

Lembra que começou aos 13/14 anos com o tio Wilson Jacaré. Proprietário do boxe ReloArte Modelo no MAP, casado e pai de dois filhos adultos - um casal -, ambos com ensino superior, ele se orgulha da profissão, mas demonstra preocupação pela falta de renovação. “Antes, qualquer profissional podia receber um jovem para lhe ensinar a arte; foi assim comigo e com centenas de outras pessoas. Hoje, as leis não permitem que menores trabalhem, e algumas pessoas, quando aprendem a profissão, em vez de ficarem gratas, entram na Justiça para tomar tudo de quem lhes ensinou”, relata.

Essa observação de Aleucik tem a concordância de Edson Santos, que também questiona a funcionalidade da lei em relação ao trabalho do menor. “Como é que podemos nos expor? E não é só em relação aos relojoeiros, em outras profissões também. Enquanto isso, muitos menores ficam nas ruas e, infelizmente, o que acontece todos sabem”.

Hoje, beirando os 700 mil habitantes, embora pelos dados do IBGE mantenham-se distantes disso, e com as pessoas em trânsito no dia a dia, estima-se que haja perto de um milhão de habitantes. Feira de Santana não conta com um número compatível de relojoeiros profissionais.

“Creio que temos em torno de 20, se muito. Agora, em se tratando de pessoas que fazem limpeza externa de um relógio, trocam uma pulseira, substituem uma bateria, podem ser muito mais. Relojoeiro mesmo são poucos”, garante. Conforme Lêu, mesmo com o advento dos relógios à bateria, os chamados automáticos, continuam tendo grande procura no mercado. Ele acredita que os relógios automáticos Orient e Champion sejam os preferidos, embora haja outras marcas com modelos mais modernos. O Mido e o Rolex, relógios considerados caros, têm menor fluxo nas lojas de conserto.

Como um relógio novo pode ter custo além do orçamento disponibilizado pelo pretendente, a saída é simples: “Geralmente, o relojoeiro adquire bons aparelhos de pessoas que compraram novos ou não querem mais usar os que possuem e, depois de uma revisão geral, vai vendê-los por um preço bem acessível”, ressalta.

Há mais de 40 anos dedicando seu dia a dia à profissão e hoje usando óculos para melhor manusear as pequeninas peças, com impressionante facilidade, Aleucik diz que se sente bem com o que faz. O tempo gasto no conserto de um relógio depende do defeito. “Há consertos rápidos, coisa de 20 minutos, e outros que podem durar até o dia todo e muito mais, porque quando não temos a peça para repor, precisamos recorrer ao fornecedor aqui em Feira ou em São Paulo. Nesse caso, o trabalho pode demorar até dias, enquanto esperamos a peça”.

Afeito ao serviço desde os 14 anos, quando começou, ele não vê qualquer dificuldade em desmanchar totalmente um relógio de pulso em minutos, limpá-lo, efetuar a troca de alguma peça e remontá-lo, o que para o leigo parece um terrível e inacessível quebra-cabeça. O custo de um conserto é variável, geralmente a partir de R$ 70,00. Nos aparelhos modernos, a troca de bateria é algo corriqueiro. Nos modelos automáticos, é mais comum haver uma parada: “Isso geralmente acontece quando o relógio é retirado do braço e fica assim durante horas, mas não é defeito, e tão logo ele é recolocado no braço, o balanço da máquina é reiniciado e ele funciona normalmente”, conclui.

Por: Zadir Marques Porto

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