Elias Kalile, médico clínico - homem afável, filantropo e empreendedor -, foi o responsável pelo surgimento da Kalilândia no início do século passado, deixando boas lembranças na comunidade
Chamá-la de bairro não corresponde à verdade, pois há muito deixou de ser. Kalilândia, “terra do doutor Kalile”, já não é o mesmo bucólico e romântico bairro residencial, onde, à noite, famílias inteiras, tradicionalmente conhecidas, ocupavam os bancos da grande praça e os jovens - moças e rapazes - conversavam e brincavam respeitosamente. Cinco décadas se passaram, talvez, mas foi o suficiente para uma mudança geral, porque tudo mudou também.
As serenatas, as festinhas estudantis, as amizades são apenas lembranças de alguns poucos que ainda permanecem em meio a restaurantes, hotéis, clínicas, colégios, panificadoras, prestadoras de serviços, emissoras de rádio e outros estabelecimentos que caracterizam uma forte transição. Os campos de futebol desapareceram no alavancar urbanístico. Existiu, inclusive, o forte Kalilândia Futebol Clube. As casas de pavimento térreo e grandes quintais, com árvores frutíferas, ficaram no passado, tendo seus espaços substituídos por edifícios residenciais. Não há como resistir.
Na verdade, a proximidade com o centro comercial da cidade - cerca de mil metros - apressou essa conjunção da qual não se pode reclamar. O que antes parecia longe para quem estava no centro da “Cidade Princesa”, hoje parece tão próximo que inexiste linha de transporte coletivo para essa ligação. A Kalilândia nasceu em paralelo com o século passado, de uma fazenda de “Seu Lili", como era conhecido o proprietário Leolindo Silva.
A gleba foi adquirida pelo doutor Elias Kalile, médico clínico procedente de Salvador, no florescer da primeira década de 1900. Considerado um homem de caráter e extremamente cordial, com residência no largo da praça que ele edificou, rapidamente granjeou amizades. O radiotécnico Antônio Carlos Azevedo, popular “Bodão”, que nasceu e se criou na Kalilândia, lembra que ele promovia festas para as crianças no Natal e em outras datas festivas, distribuindo brinquedos para a meninada.
“Bodão” ressalta a cordialidade de Elias Kalile, lembrando que a casa de sua família, desabitada há muito tempo, é a única da época a manter o padrão arquitetônico das que foram construídas pelo médico clínico geral que, ao que se sabe, foi pioneiro na consecução de loteamentos e casas para vender naquela região. “Meu pai, que tinha uma padaria, se interessou no projeto e procurou o dr. Kalile, ficando acertado que meu pai pagaria uma importância em dinheiro e o restante em pão, para ser distribuído às pessoas carentes. O doutor Kalile era um filantropo, que procurava ajudar a todos”, cita.
O bairro nasceu assim, organizado, tendo à frente o seu fundador, lembrado pelas ações benéficas e atendimento a quantos o procurassem. Há muito tempo, foi entronizado um busto do doutor Elias Kalile na praça por ele edificada, em sinal de reconhecimento ao seu trabalho. Anos depois, o monumento foi destruído por vândalos, sem que houvesse a necessária reposição para que as novas gerações possam saber quem foi o criador da Kalilândia.
Mesmo assim, sua imagem permanece viva pelas boas ações praticadas. A praça, que tem o seu nome, continua aprazível, com bancos para quem quiser descansar, bem arborizada e com uma marca significativa: sete vetustas palmeiras imperiais que, do alto, parecem observar com tranquilidade o passar do tempo!.
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