O prédio já sediou, de forma paralela, a Câmara de Vereadores, o Fórum do município e o Posto de Higiene
Cidade jovem e pujante, de um dinamismo incomum, basicamente voltada para a atividade comercial, desde sua origem. Feira de Santana guarda pouco do seu passado, no afã cotidiano de alcançar sempre mais, o que tem conseguido graças ao seu povo trabalhador e à sua privilegiada localização geoeconômica, que lhe garante o posto de um dos mais importantes entroncamentos rodoviários do país.
Exatamente por esse cenário, pode-se dizer que a administração da Princesa do Sertão está muito bem sediada na Prefeitura Municipal, localizada no centro comercial e, mesmo com as mudanças provocadas pelo passar do tempo, permanece sóbria, espelhando sua real importância. A construção do belo prédio, que chama a atenção do visitante, teve início entre 1912 e 1915, no segundo governo do intendente Bernardino da Silva Bahia, e foi concluída e inaugurada em 1926, na intendência de Arnold Ferreira da Silva, com um custo para o município estimado em 400 mil réis.
O prédio, em estilo arquitetônico eclético — neocolonial, barroco, rococó — ou, de forma mais simples, uma arquitetura mista, foi batizado há pouco tempo, através da Câmara de Vereadores, como Paço Municipal Maria Quitéria, em homenagem à heroína feirense de sólida e importante participação na Guerra da Independência da Bahia. Está em ponto estratégico, na confluência de duas das mais importantes avenidas da Princesa do Sertão: a Getúlio Vargas, no sentido Leste da cidade, e a Senhor dos Passos, com fluência Sul/Norte.
O engenheiro Manoel Acioly Ferreira da Silva foi o autor do projeto arquitetônico que teve as obras concluídas em 1926, com inauguração seguida. O prédio já sofreu algumas reformas, o que é natural devido ao desgaste provocado pelo tempo em quase um século de funcionamento, mantendo-se, no entanto, incólume a alterações. Pode-se chegar ao pavimento superior por duas escadas. O acesso pela Avenida Getúlio Vargas é feito por uma escada de madeira, estilo Art Nouveau, pelo seu traçado em ziguezague.
Já a escada do lado da Avenida Senhor dos Passos apresenta estilo barroco, em escaiola (material com aspecto semelhante ao mármore).
No governo do prefeito Newton da Costa Falcão, em 1971, houve uma reforma interna do prédio, principalmente do teto, que sofrera estragos causados pelas chuvas. O artista feirense e professor, Vivaldo Lima, efetuou a restauração da pintura do teto, que ele prefere chamar de repintura, recuperando o trabalho feito em 1927 pelo artista francês Coubert, em estilo renascentista, com belas figuras de anjos e florais. Já no teto do Salão Nobre, que havia desabado totalmente, Vivaldo Lima executou um impressionante trabalho de retratar, com base em informações de funcionários do município, o que existia antes do teto cair.
Foi um autêntico "retrato falado", processo usado pela polícia quando não dispõe da fotografia de um acusado e a vítima se propõe a descrevê-lo. O interessante é que, após a obra feita, foi encontrada uma antiga foto do teto do Salão Nobre e o cenário era idêntico ao pintado por Vivaldo Lima.
O prédio da Prefeitura Municipal, que centraliza o Poder Executivo de Feira de Santana, já sediou, de forma paralela, a Câmara de Vereadores, o Fórum do município e o Posto de Higiene. Sede do governo municipal desde 1926, a prefeitura tem sido cenário de decisões e de muitos fatos importantes na vida política e social do município, além de episódios que entraram para a história local pelo seu aspecto de ineditismo e até folclórico. Um desses, que está cravado na verdade documental, já que poucos da época ainda estão entre nós, ocorreu no governo do prefeito Aguinaldo Soares Boaventura, comerciante proprietário do Café Aromático, com loja na Rua Marechal Deodoro. Dito como um homem sério e de bom caráter.
Eleito para o período administrativo 1948/1951, o prefeito, que era dos quadros do PSD, entrou em desencontro com o partido, ocorrendo até ameaças de agressões e um cenário desalentador, que fez com que o governo do estado designasse um delegado de polícia especial para a cidade. Na época, a Câmara de Vereadores funcionava no atual Paço Municipal e, diante do clima pouco amistoso, Aguinaldo Boaventura ordenou a construção de um isolamento com tabique na parte superior do prédio, deixando a Câmara “fora do mundo”.
A medida gerou protestos, manifestações e, de forma concludente, uma tentativa de invasão do prédio por vereadores, populares e policiais. Matreiro, sabendo resolver bem seus problemas, o prefeito postou-se à porta do prédio, tendo ao seu lado um fiel guarda municipal ao qual era atribuída a fama de pistoleiro, com um embrulho grande debaixo do braço, de formato ameaçador. Sério, o prefeito Aguinaldo Boaventura anunciou que, se houvesse invasão, mandaria disparar a metralhadora. A área ficou vazia no mesmo instante e, após o corre-corre, o prefeito tirou a "metralhadora" do saco. A terrível e devastadora arma de guerra nada mais era do que o velho cavaquinho do conjunto de chorinho do guarda municipal!.
Por: Zadir Marques Porto
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