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segunda-feira, 25 de novembro de 2024

Sem touradas - Feira de Santana deve muito aos touros

 

No passado, era "a terra das boiadas"; Hoje, poucos fazem alusão a isso, mas a história da Princesa do Sertão está intrinsecamente marcada pelas enormes boiadas e seus condutores que por aqui passavam

O Fluminense é o "Touro do Sertão". Nada mais lógico e significativo, levando-se em conta que a origem do município está profundamente ligada ao gado bovino desde os primeiros lampejos. Está na história o registro da passagem de enormes boiadas que cortavam a região, hoje chamada Portal do Sertão, vindas de locais distantes dos estados do Piauí, Minas Gerais e Goiás. Eram dias, semanas, viajando por dentro do mato, pois estradas não existiam. Pode-se dizer, até mesmo, que as boiadas desempenharam o papel que os tratores e outras máquinas pesadas iriam exercer posteriormente, na abertura de estradas para o transporte rodoviário.

Essas enormes manadas, conduzidas por vaqueiros destemidos e pouco valorizados na história relatada por escritores e pesquisadores, tinham como destino o porto de Cachoeira, na época a mais importante cidade da região, já que toda atividade comercial dependia da conjunção da ferrovia e do transporte marítimo. Com a necessidade de descanso após as longas e estafantes jornadas interestaduais, vaqueiros e boiadeiros começaram a parar na área que seria da Fazenda Santana dos Olhos d´Água, dando início à formação da vila. Assim, de forma não projetada, começou a comercialização de bovinos, quando o previsto era apenas um pouco de descanso para as manadas e seus condutores.

O inesperado surgimento do comércio de gado teve rápida expansão. As poucas casas de construção simples foram formando ruas, e o gado não poderia ficar solto, atrapalhando e ameaçando a vida dos moradores, ainda poucos, mas em evidente crescimento. A ideia dos boiadeiros foi fazer um cercado grande, de madeira retirada da mata, formada de espécies comuns na região, para alojar as manadas. Conforme historiadores, o “curral”, primeiro campo do gado de Feira de Santana, de forma bastante rudimentar, teria sido construído no Alto da Boa Vista, nas proximidades da capela ou oratório de Senhora Santana e São Domingos.

Há quem acredite que esse cercado teria ocupado a área onde hoje está localizado o Feiraguai, ou imediações, uma vez que pouco adiante foi construída a Estação Ferroviária de Feira de Santana. Desse modo, a cidade teria surgido nas proximidades da Catedral de Senhora Santana e não na área onde está o Casarão dos Olhos D´Água. Com o notável desenvolvimento do comércio de gado — bovinos em primeiro plano, equinos e pequenos animais como ovinos e caprinos —, tornou-se necessária uma área maior e fora do eixo da cidade.

Fiel à ideia de expansionismo que a "Terra de Senhora Santana" experimentava, em 1936, o prefeito Heráclito Dias de Carvalho (1935-1937) edificou com simplicidade o primeiro campo do gado na Gameleira, área rural, hoje Praça do Nordestino, local que ficou famoso pelo fato de ali ter ocorrido, em 25 de setembro de 1849, o enforcamento de Lucas da Feira (Lucas Evangelista dos Santos), um escravo que, revoltado, se transformou em terrível bandido. Na verdade, embora popularmente chamada de Praça do Nordestino, no declive final da Avenida Senhor dos Passos, oficialmente trata-se de Praça Dom Pedro II, em homenagem ao imperador que ali esteve em visita ao forte comércio de gado que era feito às segundas-feiras e que dele teria recebido elogios, favoravelmente impressionado.

Na segunda gestão de Heráclito Dias de Carvalho (1938-1943), foram construídos os “currais modelo”, modernizando o tradicional sistema de cercados de madeira irregular e arame farpado. Eles ficavam na área hoje ocupada pelo Museu Contemporâneo Raimundo Oliveira (MAC) e o Colégio Municipal Joselito Amorim. A inauguração dos "currais modelo" contou com a presença de autoridades e do destacado jornalista Assis Chateaubriand, proprietário dos Diários Associados, que incluíam, entre outras publicações, a revista "O Cruzeiro", a mais importante da América Latina. Nesse novo local, o comércio de gado alavancou, dando a Feira de Santana excepcional notoriedade, com o registro de vendas que superavam mil animais nas segundas-feiras.

Mais uma vez, em razão da rápida urbanização da Princesa, os currais modelo tiveram de ser relocados para uma área mais distante. Isso ocorreu em 1960, na gestão do prefeito Arnold Ferreira da Silva, quando o campo de gado foi transferido para a zona leste de Feira de Santana, que logo ganhou enorme desenvolvimento, surgindo o bairro do Campo do Gado Novo, depois nomeado bairro São João, onde está sediada uma secretaria municipal. Nessa área, o comércio de gado manteve-se altivo, trazendo a Feira de Santana, às segundas-feiras, criadores e comerciantes de animais de várias partes da Bahia e de fora dela. Além disso, havia intensa comercialização de artefatos de couro, ferramentas agrícolas, roupas, comidas e artigos regionais. Tornou-se, ainda, um local de atração turística.

Em consequência, mais uma vez, a área foi rapidamente tomada por imóveis — residenciais e comerciais —, fazendo com que o prefeito José Falcão da Silva (1983-1988), para atender à demanda, edificasse o Complexo Matadouro Campo do Gado (CMCG) no então distante bairro Pampalona, a oito quilômetros do centro da cidade, até então praticamente desabitada. Embora já sendo muito menor a movimentação propiciada pela venda de animais, a implantação do CMCG foi favorável ao bairro, que teve crescimento acelerado, como pode ser observado nos dias atuais. Em quatro locais diferentes, sem citar o primeiro, que foi algo provisório, o campo de gado tem funcionado como uma espécie de termômetro, a indicar o ritmo das pulsações de crescimento da cidade.

Por Zadir Marques Porto

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