A Câmara Municipal de Feira
de Santana realizou sessão solene na noite da quinta-feira (20) para comemorar
o Dia Municipal das Religiões de Matrizes Africanas. Esta data foi criada pelo
Poder Legislativo feirense, em 2005, a partir de projeto apresentado pelo então
vereador Renildo Brito. Os trabalhos da solenidade foram conduzidos pelo
vereador Carlos Alberto Costa da Rocha – Frei Cal, presidente em exercício da
Casa da Cidadania.
Os palestrantes da sessão
foram: Marcos Valério de Freitas Caribé, coordenador de Dança e Atividades
Corporais do Centro Universitário de Cultura e Arte (Cuca); Elizete da Silva,
doutora em História e professora da Universidade Estadual de Feira de Santana
(Uefs) e Pola Ribeiro, cineasta e diretor do Instituto de Radiodifusão
Educativa do Estado da Bahia (Irdeb).
A saudação aos presentes foi
feita pelo vereador José Carneiro Rocha, que após justificar a ausência do edil
Marialvo Barreto (autor da solicitação para realização da sessão), destacou a
importância da data para os líderes, adeptos e simpatizantes das religiões de
matrizes africanas em Feira e, de forma geral, para toda a sociedade. Em seu
discurso, José Carneiro enalteceu o dinamismo e a beleza destas manifestações
religiosas.
Marcos Caribé relatou sua
experiência de 30 anos no Candomblé, enfatizando a satisfação que sente por
fazer parte de uma religião que “sabe receber” e onde se cultua promovendo
festas. Sobre o preconceito que os adeptos desta manifestação sofrem no
dia-a-dia, o palestrante afirmou: “Não temos culpa se as pessoas marginalizaram
o candomblé, mas o significado da nossa religião é o amor e a caridade”.
Caribé também agradeceu a
Câmara Municipal pela criação do Dia das Religiões de Matrizes Africanas, mas
enfatizou a necessidade de que seja conferida uma atenção maior aos seguidores
destas manifestações do sagrado. “Esse é um dia para comemoração, mas nós
precisamos de muito mais, precisamos da colaboração de todos vocês de forma
integral”, concluiu.
Ao utilizar a palavra, Pola
Ribeiro, que dirigiu e produziu o filme Jardim das Folhas Sagradas, que entre
outras temáticas trata das questões relativas ao Candomblé, evidenciou a sua
experiência pessoal junto ao “Povo de Santo”, por conta da produção da
película. O cineasta afirmou que o filme apresenta os negros no exercício de
importantes atividades na sociedade contemporânea, ao contrário de alguns
espaços da mídia que os apresentam apenas como personagens marginais.
Pola afirmou que diversas
nações participaram diretamente da realização do Jardim das Folhas Sagradas e
que durante este processo ele se sensibilizou muitas vezes com a forma como as
demais religiões são respeitosamente tratadas e reconhecidas. O cineasta
informou ainda que o filme durou cerca de 11 anos para ser concluído e que
estará em cartaz na Bahia a partir do próximo dia 4 de novembro.
Última
palestrante da sessão solene, a professora Elizete da Silva fez uma analise
histórica das religiões de matrizes africanas no país. Inicialmente ela pontuou
que essas manifestações chegaram ao Brasil no contexto colonial e diante da
imposição do catolicismo que era a religião dos colonizadores. Ou seja, em um
ambiente extremamente hostil para estas. Elizete afirmou que a folclorização
das práticas sagradas dos negros e indígenas está relacionado ao fato de que
durante a Colônia, e também no Império, essas manifestações eram consideradas
como feitiçarias, e os seus adeptos e praticantes como mandingueiros e
curandeiros, tendo sido duramente perseguidos, punidos e desrespeitados.
A professora também destacou
que no período da República a liberdade religiosa não foi concedida as religiões
de matrizes africanas e ao culto espírita, ao contrário do que houve com os
protestantes. Na Bahia, por exemplo, somente na década de 70, do século
passado, durante o governo de Roberto Santos, o candomblé deixou de ser um
“caso de polícia”. Segundo Elizete Silva, apenas a partir daquele momento,
passou a não ser mais exigida a “licença” para a realização de cultos e
atividades das religiões afro brasileiras.
Antes
de encerrar sua fala, a palestrante falou sobre essas manifestações em Feira de
Santana: “memorialistas e historiadores oficiais desta cidade dizem que aqui não
havia candomblé, mas isso é uma inverdade histórica”. De acordo com ela, pesquisas
realizadas por professores e estudantes da Universidade Estadual de Feira de
Santana mostram que na cidade sempre existiu “uma população negra trabalhando
nas fazendas e promovendo suas manifestações religiosas”.
A sessão solene em
comemoração ao Dia Municipal das Religiões de Matrizes Africana foi acompanhada
pelo juiz Walter Ribeiro da Costa Júnior, coordenador nacional da Federação de
Culto Afro Brasileiro; Maria das Graças Ferreira Santos, coordenadora regional
da Federação Nacional do Culto Afro Brasileiro; Lourdes Santana, presidente do
Núcleo Odungê, ex-vereador Renildo Brito, sacerdotes, sacerdotisas, adeptos,
adeptas e simpatizantes das religiões afro brasileiras, membros da imprensa e
da comunidade feirense em geral.
Nenhum comentário:
Postar um comentário