A
Festa da Boa Morte, em Cachoeira, no Recôncavo Baiano, começa neste sábado (13)
e segue com festividades até a próxima quarta-feira (17). A devoção a Nossa
Senhora une 23 mulheres que fazem parte de uma confraria, todas têm mais de 40
anos. A festa dura cinco dias e em 2010, foi reconhecida pelo Governo do Estado
como Patrimônio Imaterial da Bahia.
A
tradição da festa começou em 1820. A irmandade é composta por mulheres
descendentes de escravos africanos e teve início em Salvador, atrás da Igreja
da Barroquinha. Era ali que elas praticavam seus rituais. Após serem expulsas
da localidades, elas seguiram para o Recôncavo Baiano e assim, se instalaram em
Cachoeira.
“A
festa da Boa Morte é muito importante para nós negros e para a comunidade
também, porque é uma história da senzala, de resistência muito valiosa e hoje
ela é reconhecida”, diz Mãe Delinha, ekede do Terreiro Raiz de Ayrá e há 15
anos, integrante da irmandade.
O
doutor em História Social e em História da Cultura Negra, Jaime Sodré, diz que
a irmandade da Boa Morte possui muitos elementos importantes para a cultura
baiana e negra. “Um dos aspectos importantes da festa da Boa Morte é chamar a
atenção da condição de mulheres porque elas se organizaram em um período
histórico bem difícil para isso. Elas tinham como objetivo se organizar
financeiramente para libertar os irmãos escravos, de modo geral, libertar as
pessoas mais velhas e ligadas a elas naquela época”, diz.
O
secretário de Cultura e Turismo de Cachoeira, Lourival Trindade conta a
importância da festa para a história do Brasil. “A irmandade tem um significado
especial para a história de Cachoeira e do Brasil. A irmandade tem um
significado de fé, força e resistência. Eles trabalharam para liberar os outros
irmãos, então isso deve ser sempre valorizado. Hoje em dias elas têm o
reconhecimento do Estado, como Patrimônio Imaterial”.
Hierarquia
Para
integrar a irmandade as mulheres precisam ter mais de 40 anos e serem ligadas a
uma casa de candomblé, que pode ser da linha Ketu, Gegê ou Nagô. Ao serem
aceitas, as irmãs passam por um ‘estágio’ de quatro anos.
Dentro
dos seus 23 membros, a Irmandade da Boa Morte possui no topo da administração e
hierarquia a Juíza Perpétua.
A
seguir situam-se os cargos de Procuradora-Geral, Provedora, Tesoureira e
Escrivã, estando a Procuradora à frente das atividades executivas religiosas e
profanas.
Confira
a programação
Os
festejos para Nossa Senhora da Boa Morte iniciam-se neste sábado (13) e seguem
até quarta-feira (17). A festa começa com a missa e apresentação de canto
coral, no sábado (13). Ás 18h ocorre a procissão das irmãs da Boa Morte pelas
ruas de Cachoeira levando a imagem de Nossa Senhora da Igreja d’Ajuda e até a
capela da Boa Morte.
No
domingo (14), as irmãs da Irmandade da Boa Morte realizam outra procissão pelas
ruas da cidade, desta vez às 19h, para simbolizar o enterro de Nossa Senhora. A
caminhada é acompanhada por filarmônicas que tocam marchas fúnebres. Na
segunda-feira (15), a festa é comemorada com missa festiva realizada às 8h e
uma grande feijoada. Na terça-feira (16) a festa continua com samba-de-roda e a
oferta de escaldado de carnes, verduras e pirão, a partir das 18h. Para fechar
as comemorações, a quarta (17) terá muito samba e distribuição de caruru e
mungunzá, no mesmo horário.
Informações do G1 e fotos
do Ipac
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